O Maravilhoso Mundo de Panuru - BoogiePop Phantom

























Todo mundo quer ser levado para algum lugar que não seja aqui.


Quem me conhece sabe que tenho um tesão por obras complexas. Confesso que em muitas delas, me sinto completamente burra. Em outras, completamente inteligente. O que eu não posso negar é que em toda essa complexidade, algo em mim é despertado, um sentimento de desafio. Uma vontade de descoberta, de interpretar. Sentir. De ser levado à outro patamar. Na maioria das vezes, minha imaginação agradece. Mas existem casos em que minha mente vomita um rolinho de fio de cabelo embaraçado. E BoogiePop Phantom mescla em mim essas duas sensações. 

Essa série tem 12 episódios de puro ''Okay, vou ver mais um epi pra entender'', só que quanto mais você assiste, mais perguntas sobre aquele universo vem à tona. A história se passa num período de cinco anos, onde mostra o passado e o presente de diferentes pessoas. BoogiePop é o nome que se deu à uma lenda de ''reencarnação da morte'', após alguns estudantes sumirem misteriosamente. Durante os episódios vemos diferentes protagonistas , que ao final possuem algo em comum; ambos são vitimas da lenda BoogiePop. 

Dirigida pelo Takashi Watanabe (Ichiban Ushiro No Dai Mao, Aria The Scarlet Ammo, ambos haréns), e realizada no estúdio Madhouse (Perfect Blue, Trigun), o anime estreou em 2000, e posteriormente ganhou uma adaptação para mangá. A sonoplastia da animação ficou por conta do Yota Tsuruoka, os desenhos ficaram à cargo do ilustrador novel Kouji Ogata (Origin: Spirits Of The Past), e roteiro nas mãos do Sadayuki Murai (também escreveu para Perfect Blue e Mushishi). BoogiePop Phantom é baseado numa ligh novel de Kouhei Kadono

Histórias de suspense me dão mais medo do que o horror claramente explícito. BoogiePop Phantom me deu calafrios do começo ao fim. É difícil tentar entender cada aspecto, e o medo do desconhecido se tornou cada vez mais claro. Eu estava esperando qualquer coisa do anime, mas sabia que essa coisa iria me chocar, talvez com sangue e morte de personagens, porém, teve bem menos do que esperava, e as cenas de medo e tensão, me vieram mais com os momentos que antecedia o fim do ato. Gostei dessa sensação; de se perder na história e me encontrar num estado diferente de onde achei que estaria. É surpreendente? Sim! Mas talvez essa não seja a palavra certa. Foi mais um choque de reações. De vez em quando esse soco no estômago sempre me era bem vindo.

Uma característica bacana da série é a linha embaralhada dos acontecimentos, muitas cenas eram vistas duas vezes a partir de diferentes perspectivas, o mesmo elogio se dá pelos episódios estarem fora de sequência. É de uma ousadia tremenda traçar essas características na série, uma vez que poderiam se tornar confusos. Até hoje, muitas pessoas que assistem, entendem bolufas do anime. Os responsáveis pela série, certamente optaram pela coragem, afinal levar ao público um projeto complexo e bem diferente dos habituais até então, era uma sentença que poderia resultar em fracasso. Poderia facilmente ganhar um público que não entenderiam nada da história (que de fato sabemos que ganhou muitos) ou poderia se tornar um ícone para um grupo de admiradores de séries complexas que estava ali se formando. Felizmente BoogiePop Phantom dividiu e ainda divide muitas opiniões. 




"Por favor, lembre-se disso, Suema. Há uma diferença entre a falta dos velhos tempos e ficar preso no passado. Da mesma forma que a cidade tem de mudar ao longo do tempo, é importante que as pessoas se movam para a frente com suas vidas. Eu sei que você entende.''
- Touka Myashita, BoogiePop Phantom




























Eu gosto da atmosfera que vai se formando conforme o tempo ia passando em cada episódio, daquela tensão pelo desconhecido, aquela espera de um algo maior surgindo. O clima da série foi talvez aquilo que mais me conquistou na série, a trilha sonora MARAVILHOSA contribuiu muito pra que os sentimentos se tornassem cada vez mais reais, tipo, MUITO mesmo. O designer do som era bastante sintetizado e possuía toda uma carga de dramaticidade que a série precisava ter. Em muitos momentos eu me via com os pelinhos do braço arrepiado ao ouvir de fundo um som meio travado mas que a medida que os segundos passavam tomava mais e mais folego e força até chegar em sua explosão final. Era completamente uma viagem. As músicas de ambiente poderia ser facilmente inseridas em algum álbum do fabuloso Tangerine Dream por exemplo. E também poderia receber por cima a voz da Björk cantando sua poesia em algum disco voltado mais uma vez para a bizarrice. Cairia como luvas. 

Mas não pense que era só a música que dava aquele ar de estar sonhando acordada não, a paleta de cores escolhida em cada mini história também era um dos aspectos que mais contribuíram para isso. E por último, e não menos importante, a história, claro. Um dos episódios que mais gostei, e que inclusive me deu a ideia do título do post, é o epi de número 03. Ele é o que me fez gostar da série, foi uma grande motivação para acompanhar a trajetória do anime até o fim. No episódio, acompanhamos a vida de Misuzu, uma adolescente normal, que sempre vê o lado bom das coisas, que aceita tudo no mundo, ou seja; uma pessoa maravilhosa de se conviver, por causa de sua aura otimista contagiosa. Mas certo dia, na volta da escola, sua amiga fica admirada pela tamanha aura de ''let it go'' de Misuzu e pergunta '' Por que lhe chamam de Panuru?'', aí a cena tem um certo corte,e mostra sua colega indo embora, como se a conversa já tivesse sido finalizada. Quando sua amiga então vira as costas para ir embora, ela sussurra que não é uma pessoa honesta, que só está ...''amando esse mundo'' - uma outra pessoa parecida com ela acaba completando a frase, como se fosse o espirito ou lembrança de alguém. A princípio pensei que ''Panuru'' era algum apelido que lhe deram quando mais nova, e que nesse tempo aprendera com alguém a amar o mundo, ver sempre o lado bom das coisas e etc. Depois acabo tendo outra interpretação, de que ''Panuru'' seria então sua irmã mais nova que faleceu e por conta disso, o jeito dela de encarar a vida acabou sendo também o seu jeito de olhar para o mundo. Um pouco mais para a frente descobrimos que na verdade ''Panuru'' é como se fosse o nome que se dá a quem acredita que a melhor maneira de viver é aceitar a vida como ela é. Depois percebemos que não foi a sua irmã que influenciou ela a ver as coisas dessa maneira, mas sim sua amiga de escola de um passado distante. No final eu fiquei com uma única palavra na cabeça: tristeza. É trágico e perturbador em todos os sentidos como termina o episódio, pois podemos perceber o quanto esse mundo de arco íris é um mundo amargo e cruel. Tapar os olhos e aceitar tudo como forma de superação é abominável pois você esconde a dor e não se permite sentir. Quando você não coloca pra fora seu sofrimento, em algum momento, esse sentimento irá explodir e te enlouquecer. Ou seja; o maravilhoso mundo de Panuru era uma ilusão.






























Se você ao tentar entender esse episódio 03 contado por mim no parágrafo acima se sentiu confuso, relaxa que BoogiePop Phantom tem mais 11 episódios como esse. Cheio de entrelinhas e paradigmas sobre o comportamento humano, e na solução deles, que em muitos casos são trágicos, beirando assim à loucura. Essa série fez eu me sentir muito inteligente e ao mesmo tempo muito burra, tudo isso no mesmo episódio. Digo e repito: foi um choque de reações. Foi uma experiência inusitada e com certeza pensaria bem em entrar nesse beco duas vezes novamente. Tem que ter paciência e entrar no clima sombrio do anime de corpo e alma. A série não é adaptada à você, mas você deve se adaptar à ela conforme os episódios passam, caso contrário você é deixado para trás. 

BoogiePop Phantom lida com mudanças de um estado de espirito, como também cruza constantemente com o passado e presente de personagens em muitos momentos. As pessoas envelhecem, e isso é representado de forma constante. As consequências da realidade escolhida, isto é, os caminhos que eles escolhem seguir, é um ponto muito importante na série que desempenha um papel fundamental, de dar uma cara própria para o anime, uma identidade. Uma outra característica legal na série são as memórias dos personagens, que assim como em relação as atitudes e escolhas, essa também traz inusitados momentos de triunfo em BoogiePop. Misuzu (Panuru) foi só um dos exemplos dele. Eu poderia citar um outro episódio (não lembro qual exatamente agora) em que vários personagens com algum problema emocional acaba se refugindo em seu passado, especificamente em sua infância. O tema escapismo trouxe para o anime momentos de glória, levando para longe BoogiePop Phantom da zona de ''complexidade vazia''. No meio de tanta confusão existia pingos de coerência, que sinceramente eram extremamente recompensadores. 






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