Éh .. o mundo é injusto doctor Tenma.
Um cenário perfeito pra te deixar muito puto. Ta pra nascer uma história tão bem bolada como esta. Naoki Urasawa soube criar em mim diversos tipos de sentimentos, e que com certeza vão me acompanhar toda vez que eu ouvir a palavra Monster. Ele soube criar o clima dos acontecimentos de maneira sensata, ao qual me transpassou diversas vezes sensações variadas. A série passa por vários acontecimentos históricos, personagens passam por diversos questionamentos pessoais, e a dúvida acerca da sua própria moralidade é colocada em jogo. É um verdadeiro jogo psicológico. Vamos relembrar um pouco da história, e em seguida debateremos sobre o verdadeiro monstro.
Sinopse: A história se passa na Alemanha Ocidental. Em um dos hospitais mais renomados do país, surge o jovem Kenzo Tenma, um japonês que se mudou em busca do sucesso em sua carreira extremamente promissora de neurocirurgião. Namorado da filha do diretor geral, repeitado e cheio de regalias, Tenma vê seu mundo girar de ponta cabeça a partir de um acontecimento: ele foi escolhido para salvar um importante paciente, mas em troca teve de abandonar um caso de um paciente turco que acabou por falecer. Isso o deixa muito abalado e cheio de dúvidas em mente ... afinal ele havia se tornado médico para ajudar os mais necessitados e não os mais ricos.
É aí que entra um caso de uma criança a beira da morte, e que Tenma escolhe salvá-la ao invés de obedecer as ordens de cuidar de um importante político que acaba por falecer. Essa decisão mudará sua vida tragicamente, fazendo-o passar pelo céu e inferno diversas vezes. Será que essa foi a melhor opção para sua carreira? Será que essa foi a melhor opção para a sua vida? Atentados, intrigas e investigações. Quem será Johan, o garoto que ele salvou naquela noite? Prepare-se para um história cheia de especulações e mistérios.
Naoki Urasawa dá um show. Responsável também por outros dois mangás famosos 20th Century Boys e Pluto, Urasawa sempre será lembrado pelas suas histórias dramáticas e investigativas. Já tive a oportunidade de comentar sobre 20th Century Boys aqui no blog, e posso dizer que foi uma das resenhas mais marcantes de que escrevi, pois lembrar de cada aspecto me dava uma boa sensação. Claro que não é uma obra perfeita, mais em se tratando de um mangá investigativo os seus pequenos deslizes se tornam irrelevantes. Assim como no outro post não entrarei na questão de qual dos dois é melhor, até porque eu acho isso estúpido. Em minha percepção cada um possui uma característica que o outro não tem, julgá-los a partir de gosto pessoal pode ser considerado injusto. Mais uma coisa é certa: Urasawa é um gênio, isso é nítido nas suas obras.
O autor joga seus personagens num Japão pós-guerra, colocando em conflito a dignidade de todos os envolvidos. Mais do que isso, eu percebi algo que sinto falta em vários mangás que envolvam pessoas ''batendo as botas''. A grande questão de mortes insignificantes. Achei super interessante como Urasawa fazia os futuros defuntos terem alguma ligação com o público e com a história. Ele liga cada ponto de uma maneira incrível, eu realmente sentia alguma coisa quando os personagens morriam, seja ódio ou dó. Em momento nenhum eu pensei ''foda-se'', eu realmente me importava na maioria dos casos. Não chegava a chorar (também não é pra tanto), mais o Naoki fez eu ter um envolvimento com os personagens em curto espaço de tempo. Portanto as mortes não foram sem sentido, mais sim relevantes pra história geral, criando em nós mais raiva daquele lindão loiro chamado Johan.
Por falar no lindão gostoso, pra mim Johan deveria receber um troféu de ' melhor vilão do século '. Ou ganhar uma linda medalha por ser um grande filho da puta. Minha vontade era de esganá-lo, fazia muito tempo que eu não sentia tanto ódio assim de um personagem. Mais é um ódio no sentido bom. Afinal existe vilão bonzinho? se existe de fato não é um vilão. Esse é um fator tão positivo, que foi uma grande base pra história ganhar consistência. Ao contrário de 20th Century Boys, Kenji não sabia com quem exatamente ele lutava, mais sabia-se que se não descobrisse o vilão logo o 'Partido da Amizade' tomaria conta do mundo, e esse partido eram exatamente como os Nazistas, só que Kenji desconhecia quem era o Adolf Hitler dessa história. Em Monster temos um vilão claro (literalmente,lol), Tenma sabia exatamente quem era, e o que fazer quando encontrá-lo, porém isso ia contra a sua personalidade.
Monster também me lembra Adolf, mangá de autoria do Osamu Tezuka. Adolf se tratava do nazismo, mostrava o preço terrível que certas pessoas pagavam se fossem contra o governo, e em Monster também vemos isso claramente, Johan manipulava as pessoas ao seu favor o tempo todo. Um outro mangá do Tezuka que também podemos comparar é Black Jack, que possui a mesma base temática de Monster. Black Jack também conta a história de um médico que tem a fama de ''Cirurgião do Impossível'', semelhante a fama que Tenma tinha.
Monster foi publicado na revista Big comic entre os anos de 1994 e 2001, no mesmo período de 20th Century Boys. O seinen Monster rendeu 18 volumes encadernados, e se transformou num animê excelente de 74 episódios produzido no estúdio MadHouse.
O mangá já ganhou diversos prêmios e muito reconhecimento da mídia japonesa, recebendo em 1997 o prêmio do Japan Media Arts Festival (ao lado de Blade of the Immortal), em 1999 o prêmio Osamu Tezuka (um dos mais importantes do Japão) e em 2001 o prêmio de mangás da Shogakukan (nota-se que ele já havia ganhado antes com Yawara! e posteriormente com 20th century boys). Ou seja, falta de reconhecimento é que Urasawa não sofreu, ainda bem.
Para iniciar toda a dramatização da obra, somos levados para a Alemanha em uma época em que atravessaria a unificação entre as partes Ocidental e Oriental, ajudando ainda mais a manter toda a climatização da série ao longo de todo o período. O clima de tensão e instabilidade emocional é transmitido o tempo todo, seja em diálogos, ou nos acontecimentos. O interessante é que nada parece forçado, nada é artificial. Todos os personagens envolvidos tem uma capacidade única de transmitir com clareza os mais sinceros sentimentos. Desespero, raiva, amor, emoção, nervosismo e todas as demais sensações que um ser humano pode sentir, absolutamente todas elas são mostradas claramente.
Cada personagem se distinguia uns dos outros, cada um tinha uma característica própria. E essa junção de personalidades fazia tudo ficar ainda mais verdadeiro, mais humano. E tudo ficou ainda mais atraente de ver desde o momento em que Tenma é colocado contra a parede, um universo infinito de possibilidades é escancarado diante dos nossos olhos. E ao longo da série eu percebo o quão rica a história é, e que nada é por acaso. Tudo é conectado muito bem.
Monster é repleto de referências, tanto históricas como artísticas. O enredo transborda questões culturais de todos os países, não se limita exclusivamente do Japão. O contexto de épocas históricas foram entrelaçadas de maneira muito sutil com os personagens, e que de maneira nenhuma pareceu algo fajuto. Muito pelo contrário, cada vez mais se tornava algo mais humano. Talvez seja esse o grande ponto forte que
tenha ajudado a criar mais impacto na história, de forma contrária se tornaria algo mais vazio, incompleto.
Em relação aos diálogos não vou mentir pra vocês, mais tem horas que eles cansam. É tudo muito bem explicadinho, detalhado, e isso desgasta quem lê. Se as pessoas que não tem muito contato com obras desse gênero forem ler Monster (ou assistir), certamente se cansaram. Tem momentos que a história passa muita informação contínua, sem nenhuma trégua ou pausa. Eu acho que a história precisou mais de entretempos no meio de tantos diálogos, algo mais meticuloso para tirar um pouco da monotonia. Mais se essa característica for comparado com 20th Century Boys, com certeza Monster leva vantagem, pois 20th CB é muito mais enrolado em suas informações.
Deixando isso de lado, eu gosto de como tudo é apresentado, e principalmente gosto da sua narrativa. Gosto dessa linguagem adulta e instigante, e do jeito como tudo se relaciona e se interliga uma nas outras. Desde os vestígios de um passado cruel até das buscas das pegadas de Johan, dos conceitos de humildade até da arrogância da época, tudo se transformou num entretenimento extremamente atrativo e comovente. É tudo muito absurdamente inteligente. Não há violência exagerada ou escrachada ao extremo, as cenas são mostradas de forma calma e incrivelmente comportada. E isso é bom.
Quanto ao seu final eu imaginava algo completamente diferente. Fui pega de surpresa definitivamente, não foi um final que esperava, até porque eu pensava que seria algo mais óbvio. Entretanto achei bom em ser surpreendida, ás vezes é na surpresa que achamos um verdadeiro significado. Foi muito legal saber que o final proporcionou uma lacuna para infinitas possibilidades. Aquilo que não é mostrado abre alas para a imaginação voar, fluir, se estabelecer, e se concluir em várias teorias do que se sucede durante e depois. E no fim das contas Urasawa fez isso, deixou cada um de nós se tornar um detetive, isso foi fantástico para um série de suspense investigativo.
Eu acho que a grande moral da história seja a conduta da vida. E por conta disso alguns vão se decepcionar. Não vá ler achando que vai encontrar sangue jorrando pra todo lado, mistérios sobrenaturais, super heróis com super capacidades de percepção. Não! Se você parar pra pensar, Monster fala sobre a vida. Sobre como o ser humano pode fazer diferentes escolhas, ao qual elas o levarão a diversos patamares. Aquilo em que você acredita, é aquilo que você é. Você faz parte de uma sociedade, e a mistura de tantas outras personalidades juntas, resulta num país honesto ou sujo. No caso de Monster se tratava de uma época muito conturbada, repleta de pessoas egoístas e que eram facilmente manipuladas. Tenma queria sair do meio dessas pessoas hipócritas, não se importava pelo preço que iria ter que pagar, ele só queria enfrentar a realidade em que vivia do jeito mais certo possível, mesmo que ganhasse fama de assassino. Queria sim consertar os seus erros de um jeito errado, mais não queria lidar com o fato de que contribuiu para um país mais sujo que bumbum de bebê.
Quem não estiver nenhum pouco interessado nessa proposta de Urasawa, vai ter um grande choque. Ainda mais quando cair em si de que todos os personagens secundários estão divididos em duas categorias. Os que são moralmente ''curados'' pelo Tenma, e os que foram moralmente ''envenenados'' pelo Johan. Uma verdadeira batalha composta por ideologias distintas, e por sentimentos inversos. Ódio e amor andavam em duas linhas diferentes e que vez por outra se esbarravam, e mostravam a sua dramaticidade mais profunda e sutil.
Enfim, posso resumir que Monster é uma caça ao verdadeiro monstro contido em cada um de nós, uma vez que acordados ou revividos podem fazer verdadeiros estragos não só na nossa vida, mais também nas que estão ao nosso redor. Arte incrível, história inteligente só poderiam resultar em coisa boa. Uma obrigação para os adoradores de obras ricas em detalhes e significados, e uma sugestão para aqueles que querem adentrar nesse universo investigativo.
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Cada personagem se distinguia uns dos outros, cada um tinha uma característica própria. E essa junção de personalidades fazia tudo ficar ainda mais verdadeiro, mais humano. E tudo ficou ainda mais atraente de ver desde o momento em que Tenma é colocado contra a parede, um universo infinito de possibilidades é escancarado diante dos nossos olhos. E ao longo da série eu percebo o quão rica a história é, e que nada é por acaso. Tudo é conectado muito bem.
Monster é repleto de referências, tanto históricas como artísticas. O enredo transborda questões culturais de todos os países, não se limita exclusivamente do Japão. O contexto de épocas históricas foram entrelaçadas de maneira muito sutil com os personagens, e que de maneira nenhuma pareceu algo fajuto. Muito pelo contrário, cada vez mais se tornava algo mais humano. Talvez seja esse o grande ponto forte que
tenha ajudado a criar mais impacto na história, de forma contrária se tornaria algo mais vazio, incompleto.
Em relação aos diálogos não vou mentir pra vocês, mais tem horas que eles cansam. É tudo muito bem explicadinho, detalhado, e isso desgasta quem lê. Se as pessoas que não tem muito contato com obras desse gênero forem ler Monster (ou assistir), certamente se cansaram. Tem momentos que a história passa muita informação contínua, sem nenhuma trégua ou pausa. Eu acho que a história precisou mais de entretempos no meio de tantos diálogos, algo mais meticuloso para tirar um pouco da monotonia. Mais se essa característica for comparado com 20th Century Boys, com certeza Monster leva vantagem, pois 20th CB é muito mais enrolado em suas informações.
Deixando isso de lado, eu gosto de como tudo é apresentado, e principalmente gosto da sua narrativa. Gosto dessa linguagem adulta e instigante, e do jeito como tudo se relaciona e se interliga uma nas outras. Desde os vestígios de um passado cruel até das buscas das pegadas de Johan, dos conceitos de humildade até da arrogância da época, tudo se transformou num entretenimento extremamente atrativo e comovente. É tudo muito absurdamente inteligente. Não há violência exagerada ou escrachada ao extremo, as cenas são mostradas de forma calma e incrivelmente comportada. E isso é bom.
Quanto ao seu final eu imaginava algo completamente diferente. Fui pega de surpresa definitivamente, não foi um final que esperava, até porque eu pensava que seria algo mais óbvio. Entretanto achei bom em ser surpreendida, ás vezes é na surpresa que achamos um verdadeiro significado. Foi muito legal saber que o final proporcionou uma lacuna para infinitas possibilidades. Aquilo que não é mostrado abre alas para a imaginação voar, fluir, se estabelecer, e se concluir em várias teorias do que se sucede durante e depois. E no fim das contas Urasawa fez isso, deixou cada um de nós se tornar um detetive, isso foi fantástico para um série de suspense investigativo.
Quem não estiver nenhum pouco interessado nessa proposta de Urasawa, vai ter um grande choque. Ainda mais quando cair em si de que todos os personagens secundários estão divididos em duas categorias. Os que são moralmente ''curados'' pelo Tenma, e os que foram moralmente ''envenenados'' pelo Johan. Uma verdadeira batalha composta por ideologias distintas, e por sentimentos inversos. Ódio e amor andavam em duas linhas diferentes e que vez por outra se esbarravam, e mostravam a sua dramaticidade mais profunda e sutil.
Enfim, posso resumir que Monster é uma caça ao verdadeiro monstro contido em cada um de nós, uma vez que acordados ou revividos podem fazer verdadeiros estragos não só na nossa vida, mais também nas que estão ao nosso redor. Arte incrível, história inteligente só poderiam resultar em coisa boa. Uma obrigação para os adoradores de obras ricas em detalhes e significados, e uma sugestão para aqueles que querem adentrar nesse universo investigativo.
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Bela resenha, sem spoilers. Um toque de classe.
ResponderExcluirObrigada \o/
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