Uma lenda oriental e o seu legado.
Nesta parte01, você saberá quem foi Akira Kurosawa, e quais foram as suas principais obras que influenciaram diretores do mundo inteiro. Apertem os cintos, e subam a bordo da nave que esta prestes a decolar! ~~ tchummmm * barulho de nave subindo*
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Meu amigo, se um dia você teve a oportunidade de conhecer a cultura oriental no cinema, saiba que o grande responsável por isso é Akira Kurosawa. Sim, foi graças á ele que as portas do mundo inteiro foram abertas para a cultura cinematográfica de seu país e dos seus arredores, mesmo com nomes importantíssimos do cinema japonês terem chegado antes do grande ''BUM'', como por exemplo Ozu e Mizoguchi. Com o filme Rashomon, Akira levou o Leão de Ouro em Veneza no início dos anos 50, seu talento começava a tomar projeção internacional, e teve a confirmação poucos anos depois, com a obra-prima, Os Sete Samurais.
Por incrível que pareça, nem esse reconhecimento internacional foi suficiente para que Kurosawa fosse reconhecido dentro do seu país, sendo considerado um cineasta de segunda categoria por seu próprio povo. Isso o influenciou a tentar o suicídio, quando não conseguiu juntar mais dinheiro para realizar um de seus filmes. Entretanto, desistiu depois, quando alguns jovens cineastas norte-americanos resolveram tomar uma iniciativa e financiá-lo - cineastas estes, que nos dias de hoje são nomes importantes do cinema mundial, como Steven Spielberg, George Lucas, Martin Scorsese e Francis Ford Coppola.
Kurosawa sempre sera lembrado pela simplicidade em suas obras. Valorizava com muita paixão as pequenas coisas da vida e mostrava o que há de mais belo nos pequenos detalhes. Você pode perceber isso pelas lindas paisagens, os sons dos rios, os passarinhos, ou seja, tudo é muito naturalista e é que o aproxima ao que estamos vendo, a um universo de sonhos que só se encontram em nossas cabeças; um simples momento que já passou e deixou saudades. E, por tratar de questões filosóficas como a de amizade e honra, explorou dessa forma, os pensamentos orientais em sua magnitude e popularizou uma cultura tão fechada como é a japonesa, talvez esse tenha sido um dos principais fatores que levaram à sua rejeição interna. O que é uma pena, pois o que é belo deveria ser apreciado, já que retratava com muito carinho e amor todos os seus temas e lugares onde eles passavam.
Por trás do filme de 1958, The Hidden Fortress (kakushi toride no san akunin).
"- Em 1981, nós visitamos os enormes estúdios de George Lucas. Na entrada do estúdio estava R2D2 e C3PO, o par robô inspirado nos agricultores de The Hidden Fortress - filme de Kurosawa. Alguém ouviu que Lucas perguntou ao Kurosawa, se queria ganhar uma taxa de direitos autorais para a sua utilização. Kurosawa ao ouvir isso, apressadamente disse a Lucas; '' não, não ", acrescentado com um sorriso. ''por favor, use-os o quanto quiser."- Teruyo Nogami
(fonte das imagens: Tumbrl)
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Nascido em 23 de Março de 1910, sendo o mais jovem de oito irmãos (quatro homens e quatro mulheres), em Ohimachi, Tóquio. Aos 18 anos já dava os primeiros passos para o lado artístico, quando fez um exame de admissão para a escola de arte, como pintor, onde infelizmente foi recusado. Não desistiu e, depois de algumas exposições com suas obras, começou no cinema como diretor assistente, em 1936. Com seu talento, foi crescendo aos poucos dentro do ramo, até dirigir, em 1943, Sugata Sanshiro, um filme que conta a história de Sanshiro e sua descoberta das artes marciais, o judô com o professor Yano; da natureza, com Satori; e do amor, com a filha de seu velho professor de Jiu Jitsu Sayo.
Seis anos depois, era lançado um noir japonês altamente interessante, intitulado Cão Danado. Murukami, um jovem investigador de homicídios, é roubado em um ônibus e perde sua arma. Ele parte em uma busca para encontrá-la, sem sucesso, até deparar-se com Sato, um experiente detetive. Kurosawa já demonstrava seus primeiros sinais de extremo humanismo quando revela as razões para o assaltante ter feito tal ato. No ano seguinte veio o grande pontapé. Com o já citado Rashômon (1950), seu décimo primeiro filme, Kurosawa venceu o prêmio máximo em Veneza e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, impulsionando de maneira arrebatadora a carreira do até então jovem cineasta. Rashomon conta a história do assassinato do marido de uma mulher estuprada, sob quatro pontos de vistas diferentes. O filme é tão curioso, mas tão curioso, que até o próprio morto reencarna só para dar sua versão dos fatos! Mais uma vez, Kurosawa dá sua lição de moral de maneira arrebatadora e convincente.
Com O Idiota, Kurosawa utiliza um texto de peso do mestre Dostoiévski. Conheça a história de Kameda, que viaja para Hokkaiko e acaba se envolvendo com duas mulheres. A tragédia acontece após uma perceber que não é amada e decidir tomar providências drásticas quanto a sua situação. No ano seguinte ele lançaria Viver, que para muitos é o melhor trabalho do diretor. É um filme sensível, incrivelmente triste, que trata da vida de Kanji Watanabe, um burocrata que não liga para nada que não lhe possa trazer algum lucro, até descobrir que está com câncer. Mudado, decide construir um playground em seu bairro, e lá tenta descobrir sua razão de ... Viver.
Mas, sua obra-prima veio em 1954. Os Sete Samurais popularizou os samurais em todo o mundo nos cinemas, contando a história de sete deles, que são contratados para proteger uma vila da invasão de bandidos, que todo ano roubam muito de sua colheita. Do início ao fim, uma obra maravilhosa, que gerou inclusive uma refilmagem norte-americana, ambientada no faroeste, chamada Sete Homens e um Destino. Toshirô Mifune concede nada mais, nada menos, do que uma das melhores interpretações de toda a história do cinema. Três anos depois Kurosawa trabalharia com um texto de outro gênio. Trono Manchado de Sangue adapta a obra Macbeth, de Shakespeare, para o Japão Feudal de maneira brilhante, e conta a história de Washizu e Miki, dois samurais que têm uma visão de uma senhora em meio a uma floresta. Depois que ela profetiza um ambicioso futuro para um deles, os samurais acabam ficando com isso na cabeça e, sem querer, tomam atitudes que fazem com que o que foi profetizado, aos poucos, torne-se realidade, não importa a quantidade de sangue que seja derramada.
Em 1958 era lançado o filme que inspirou George Lucas em seu irmão mais novo e famoso, Star Wars. Com A Fortaleza Escondida, novamente no Japão Feudal, Kurosawa conta a história de um poderoso homem que escolta uma princesa fugitiva a caminho de casa, em pleno território inimigo, com a ajuda de dois medrosos fazendeiros desertores da guerra. Três anos depois, mais uma obra-prima. Yojimbo - O Guarda-Costas conta a história de um samurai que chega a uma cidade em busca de emprego, mas encontra um caótico cenário de guerra entre duas gangues locais rivais. Decidido a se aproveitar da situação para algo maior, ele oferece seus serviços às duas gangues. Inspirou algumas obras famosas, como o clássico faroeste Por um Punhado de Dólares, de Sergio Leone e estrelado por Clint Eastwood, ou então o mais recente Kill Bill, de Quentin Tarantino.
Sanjuro (1962) é continuação direta de Yojimbo, mas desta vez levando o nome do personagem principal no título. Ele se une a alguns jovens idealistas, que estão determinados a acabar com a corrupção que há em sua cidade. Porém, por causa de suas atitudes e passado, Sanjuro está muito distante dos ideais de nobreza que os jovens têm em mente. Toshirô Mifune repetiu a parceria de sucesso mais duas vezes seguidas, uma com Céu e Inferno, e outra com O Barba Ruiva - o último filme em que ambos trabalhariam juntos, depois de dezesseis trabalhos. O Barba Ruiva conta a história do doutor Kyojio, que ensinará o novato médico Yasumoto os verdadeiros valores da profissão.
Com Dodeskaden - O Caminho da Vida (1970), seu primeiro filme a cores, Kurosawa deu vida a um triste cotidiano de uma precária favela em Tóquio. Sim, você não leu errado. Trata-se de uma história de muitos personagens, todos sofridos, em uma belíssima mistura de sonho e realidade. Diversos temas como alcoolismo e fome são tratados de maneira única, como o mestre sabia fazer como ninguém. Porém, cinco anos depois, Kurosawa voltaria a vencer o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Desta vez, com a obra Dersu Uzala, exatos vinte e cinco anos após receber o mesmo prêmio por Rashomon. O filme conta a história do homem que dá título ao filme, um velho caçador, que ajuda um explorador russo em uma missão pela floresta, como guia. Quando se reencontram, tempos depois, o explorador decide levá-lo para sua casa e cuidar do velho, que sofre um forte impacto entre os diferentes padrões de vida da cidade e das montanhas. É, sem dúvida, um dos meus preferidos do diretor.
Mais um intervalo de cinco anos e era lançado Kagemusha - A Sombra do Samurai, um filme que conta a complexa história do lorde que, prevendo sua morte, ordena que um sósia se passe por ele, evitando assim a queda de seu reinado (que estava em plena guerra). Entra em cena um jovem ladrão, idêntico ao antigo comandante, que enfrenta logo de cara uma situação que nenhuma pessoa sensata escolheria enfrentar. A produção internacional ficou a cargo de jovens cineastas norte-americanos, mas já bem famosos: Francis Ford Coppola (já havia realizado O Poderoso Chefão) e George Lucas (que havia explodido com o seu Star Wars). Mais uma vez indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro, ficou 'apenas' com a Palma de Ouro em Cannes de 1980 - prêmio que fora dividido com O Show Deve Continuar.
Com Ran, em 1985, Kurosawa voltaria a trabalhar com um texto de Shakespeare. Adaptação do clássico Rei Lear, ele transpôs a história para o Japão Feudal, onde o chefe da família Ichimonjis, já velho, decide dividir seus preciosos bens entre os três filhos, o que gera uma sangrenta batalha entre eles. Uma obra grandiosa, que levou mais de 10 anos para ser realizada. Diversos storyboards foram produzidos nesse período, que ajudaram na hora das filmagens, já que a visão do diretor já estava bastante prejudicada quando o filme foi, finalmente, para a lata. Para se ter uma ideia da dimensão da produção, um castelo fora, de verdade, construído para as filmagens e destruído durante, nessa tragédia clássica que resultou em um dos melhores filmes do diretor - por ele, foi indicado ao Oscar de Melhor Direção.
Tomando como exemplo sua mais recente obra-prima, Sonhos (1990), vemos que Kurosawa não só tratou de temas delicados da cultura e do folclore oriental, como também não deixou de lado sua preocupação e opinião sobre importantes fatores da história, como a bomba atômica que explodiu em Hiroshima. Pelo nome do filme, percebemos o quão pessoal é seu trabalho, novamente apoiado por seus amigos cineastas ocidentais. Aliás, nesse filme o diretor Martin Scorsese teve uma participação significativa em um dos oito episódios que conta, interpretando ninguém menos que Van Gogh. É um dos mais bonitos e tocantes filmes de sua exemplar filmografia. Ainda em 1990 recebeu da Academia um Oscar especial, pelo conjunto da obra. Em Rapsódia em Agosto, de 1991, voltaria a tocar no assunto bomba atômica, mas aprofundando o tema e opinião desta vez. Richard Gere interpreta um norte-americano que viaja ao Japão, decidido a pedir desculpas a uma viúva da bomba atômica. Duas gerações que se encontram em forma de arrependimento e um novo começo. O final é antológico e extremamente poético.
Em 1993, era lançado o seu último filme. Madadayo conta quarenta anos da vida de um professor que se aposenta, mas seus alunos não o deixam por o amarem de verdade. Enquanto a morte não chega, a vida continua. Este filme deixava claro que o gênio ainda não estava pronto para a morte por hemorragia cerebral, que acontecera somente cinco anos depois, em sua própria casa. Deixou o roteiro de Depois da Chuva, filmado com competência recentemente por seu fiel assistente de direção Takashi Koizumi, e Sob o Olhar do Mar, lançado em DVD. Tenho certeza que, se Kurosawa não estava preparado para morrer, o cinema então muito menos, já que perdeu uma de suas perolas. Mas uma coisa é certa; a saudade é grande, mais o seu legado deixado é ainda maior.
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Gostou da iniciativa do texto? não deixe de me contar nos comentários. Em breve a parte 02 estará disponível aqui no blog, só que desta vez, sobre algumas curiosidades pessoais da vida de Kurosawa, e também, resenharei mais a fundo alguns de seus filmes. Por isso, curta a Nave Bebop no Facebook, e siga também no Twitter pra estar atualizado. Até a próxima terráqueos!
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