E se você pudesse vivenciar várias das suas possíveis escolhas num único lapso de tempo?
Essa é a proposta de The Tatami Galaxy, ou o melhor dizendo, Yojouhan Shinwa Taikei. Lançado em 2010 com produção do estúdio Madhouse (BoogiePop Phantom, Paranoia Agent, Monster) e exibido no bloco noitaminA com 11 episódios, The Tatami Galaxy recebe a direção experimental do Maasaki Yuasa, o cara que fez Kaiba, Kemonozume e consequentemente mais tarde o glorioso Ping Pong The Animation no ano passado.
Esse anime é uma adaptação de um romance japonês escrito pelo Tomihiko Morimi em 2004. A história é bem simples, mas no começo soa bem complicada, devida a quantidade de informações que nos são passadas, através das ligeiras falas do protagonista Watashi (que significa ''eu''). Ele é um estudante universitário de Kyoto que sente que seu tempo está sendo desperdiçado em um clube particular (ou seja, o chamado círculo), e para isso ele precisa encontrar uma maneira de se divertir e socializar com as pessoas, ser o ''descolado''.
The Tatami Galaxy (Yojouhan Shinwa Taikei) ganhou premio em 2011 no Japan Media Arts Festival, e foi o primeiro a ser elogiado pelo júri na TV aberta, com diversas justificativas. Algumas delas foi pelo fato da obra ser ricamente expressiva, derrubando assim consigo as limitações da TV, dando voz à imaginação. Os trejeitos de filmagem, cores, e movimento de personagens também foram incluídas nos elogios.
Logo no primeiro episódio tive a sensação de estar assistindo um filme hipster. Diretores como o Wes Anderson, Sofia Coppola e Woody Allen me vieram na mente no decorrer dos episódios, confirmando ainda mais meu primeiro sentimento. Raramente, a primeira impressão é a que fica. Mas The Tatami Galaxy quebrou esse paradigma, e continuou alimentando minhas expectativas, como se jogasse pedaços de pão para um cãozinho faminto.
Essa pegada hipster em Tatami Galaxy, tem como características a comédia-drama, uma junção clássica dos filmes do Wes Anderson por exemplo. Peguemos o seu último filme como comparação, O Grande Hotel Budapeste, Tatami Galaxy em muito se assemelha (ou seria ao contrário?) a esse filme, tanto em trilha sonora, como em narrativa. As falas acontecem com urgência, o clima muda de uma hora para a outra. Um pensamento de contrapartida: Os mimizentos de plantão dizem que o a ''cultura hipster'' foi abraçado pelo mainstream, portanto deixou de ser hipster (risos eternos). Como se tudo que chegasse em nível popular, deixasse de pertencer a tal tribo, assim do dia pra noite. Então, se você gosta dessa estilo, mas gosta dos filmes do Quentim Tarantino por exemplo, você está traindo o movimento, afinal você tem que gostar apenas dos hipsters desconhecidos. Na moral, esse povo esta precisando de uma chinelada na bunda...
Enfim! O que estou querendo dizer, é que; Tatami Galaxy pertence à um nicho comercial para pessoas com gosto refinado, ele é popular na medida do possível, mas não deixa de pertencer a classificação das obras hipsters. Ele pega a realidade e brinca com ela, através da narrativa nada convencional. É lindo visualmente, mas também, como tinha de ser, transborda conteúdo. Uma ideia, que caça em todas as entrelinhas possíveis diversos significados para a satisfação pessoal.
Mas voltemos ao foco principal. Considero The Tatami Galaxy um choque. Não porque a narrativa é diferente e o visual é fora do padrão, essas coisas você vai descobrir por si só (até porque, essas são características bem nítidas). No entanto, o motivo do choque vem pelo fato de que; a história é muito maluca. Esqueçamos por um instante os outros fatores que ajudam à comprovar isso, pensemos somente no roteiro. O protagonista Watashi, como o próprio nome já diz, é uma pessoa normal, como eu e você - sim, você é normal, por mais que às vezes sinta que é um peixe fora d'água. Todo mundo tem um determinado momento em que se acha estranho. Eu duvido que exista alguém no mundo que não tenha parado pra pensar em como ele é esquisito. Em alguma hora do dia, em algum momento da semana, quando se encarar no espelho, sozinho ou acompanhado, triste ou feliz, o pensamento será o mesmo. Alguns pensam isso com muita frequência (eu), outros nem tanto. Mas a conclusão é universal no fim das contas, não é mesmo?
Pois bem. The Tatami Galaxy toca fundo nessa ferida interna, e a rasga ainda mais diante dos nossos olhos. No final, o que sobre é a cicatriz. É um anime pra não se esquecer assim tão fácil. Tudo isso por quê? Porque ele provoca. Tudo mostrado é questionador, uma afronta. Têm pessoas que não gostam de olhar por alguns minutos a realidade de si próprio, e se escondem à margem dos animes convencionais ''eternamente''. Meus queridos, o medo do novo sempre vai existir. Você pode acusar o anime de chato, por causa do visual e da narrativa urgente (por questão de gosto ou sei lá o que), mas jamais poderá acusá-lo de ser vazio. Existe um conteúdo formulado do começo ao fim, e não é só creme de enfeitar bolo. A massa está ali, e tem sabor depois de pronto. Os dois últimos episódios finais, é de escorrer um suorzinho na testa. É nesses últimos instantes que o sapato aperta, e a ''giripoca pia''.
Eu não poderia deixar de comentar aqui os universos paralelos. Tatami Galaxy poderia sim soar repetitivo por causa da forma como os acontecimentos são anunciados, e existe um episódio e outro, que de certa forma o são. Porém, ele não atinge a marca do enjoativo e consegue segurar bem as pontas, com uma narração que consegue se reinventar, mesmo usando o mesmo formulário. Me lembrei de Space Dandy agora, uma vez que o clima de universos paralelos são quase os mesmos, principalmente algumas de suas reflexões e expressividade de personagens. A diferença é que Tatami Galaxy, de certa forma, é mais pé no chão, enquanto Space Dandy é muito mais fantasioso. Mas não
deixa de ter uma narrativa parecida.
Tenho que confessar que particularmente adoro esse tema. Tem um episódio do seriado Fringe (é um dos últimos da quarta temporada se não me falha a memória) que me fizeram encarar esse espaço de tempo com os olhos mais curiosos. Onde a realidade se mistura com a imaginação, os atores viram desenho, depois o desenho vira cenário, e depois embarcam pra uma outra realidade alternativa. Achei interessante isso, não só por ter um jeito fora do padrão, mas também por apresentar significados múltiplos, brincar com a minha mente de um jeito saudável e digamos assim: louco. Em Tatami Galaxy, o resultado em mim foi o mesmo, por mais que eu já tivesse sido apresentada ao tema por outras mídias.
Tentar decifrar universos paralelos é uma missão sempre perigosa, e consequentemente, sempre será um tiro no escuro para mim. Mas o que eu posso dizer sobre isso é o seguinte. O ''e se'' é uma trilha bastante usada em Tatami Galaxy. Esse é o principal combustível que faz com que mundos diferentes coexistam lado á lado. E esses mundos não está ligados ao habitat, mas sim as escolhas do protagonista. Portanto, esteja preparado para um festival de aventuras descompromissadas e bem divertidas. Tenha em mente que o fracasso faz parte de todos os episódios, e que não significa necessariamente uma coisa ruim. Na verdade, é algo bem positivo na série. Todos os episódios terminam com um final melancólico, mas o ''e se'' traz uma chance de recomeço. Uma luz no fim do túnel. O tempo volta, o papel está em branco novamente para ser escrito, desenhado e colorido. No entanto, o personagem toma um rumo errado em todos eles, no fim, acaba insatisfeito. Por mais que Watashi trilhe por uma estrada diferente, a sentença é a mesma. Ele tenta de todas as formas fugir do indesejado,batalhando duro para isso, entretanto, o resultado é incontrolável.
Os dois últimos episódios mostram um Watashi reprimido e abatido. Ele decide então se trancar em seu quarto, e quando decide sair, Watashi simplesmente não consegue. Assim como em Fringe os atores se misturam com desenhos, Tatami Galaxy faz o protagonista se perder em meio a realidade, transformando o cenário em um lugar real. Na hora fiquei refletindo sobre a mensagem do anime, que é algo bem óbvio ao meu ver. No entanto, ao engolir o que os produtores me propuseram, eu pude também chegar em outras conclusões. E é isso que eu quero dividir com vocês aqui hoje. Interpretação.
Tentar decifrar universos paralelos é uma missão sempre perigosa, e consequentemente, sempre será um tiro no escuro para mim. Mas o que eu posso dizer sobre isso é o seguinte. O ''e se'' é uma trilha bastante usada em Tatami Galaxy. Esse é o principal combustível que faz com que mundos diferentes coexistam lado á lado. E esses mundos não está ligados ao habitat, mas sim as escolhas do protagonista. Portanto, esteja preparado para um festival de aventuras descompromissadas e bem divertidas. Tenha em mente que o fracasso faz parte de todos os episódios, e que não significa necessariamente uma coisa ruim. Na verdade, é algo bem positivo na série. Todos os episódios terminam com um final melancólico, mas o ''e se'' traz uma chance de recomeço. Uma luz no fim do túnel. O tempo volta, o papel está em branco novamente para ser escrito, desenhado e colorido. No entanto, o personagem toma um rumo errado em todos eles, no fim, acaba insatisfeito. Por mais que Watashi trilhe por uma estrada diferente, a sentença é a mesma. Ele tenta de todas as formas fugir do indesejado,batalhando duro para isso, entretanto, o resultado é incontrolável.
Os dois últimos episódios mostram um Watashi reprimido e abatido. Ele decide então se trancar em seu quarto, e quando decide sair, Watashi simplesmente não consegue. Assim como em Fringe os atores se misturam com desenhos, Tatami Galaxy faz o protagonista se perder em meio a realidade, transformando o cenário em um lugar real. Na hora fiquei refletindo sobre a mensagem do anime, que é algo bem óbvio ao meu ver. No entanto, ao engolir o que os produtores me propuseram, eu pude também chegar em outras conclusões. E é isso que eu quero dividir com vocês aqui hoje. Interpretação.
Ao longo dos 10 episódios, o que a gente pôde ver? Sim, um Watashi esperançoso. Corajoso. Os dois últimos explora o outro lado. O Watashi medroso. Cansado. Ele fica tão isolado, que os seus pensamentos começam a enlouquecê-lo. Sufocá-lo. Quando o quarto dele deixa de ser desenhado e passa a ser a realidade em branco e preto, Watashi surta de vez. Ele sonhava com um mundo cor de rosa, ao longo de todos os episódios, Watashi foi mergulhado em todas as cores possíveis, mas de repente, tudo se encontra sem cor. Assim como ele mesmo menciona, esse clima brusco em sua vida é semelhante a história do homem que se torna um inseto. Ele diz que pra ele não é assim tão dramático, até porque, eu acho que isso se deve ao fato de que ele já se sentia assim durante muito tempo. Um inseto asqueroso. Mesmo já acostumado com seu sentimento de escrotidão, Watashi sente como se seu pescoço estivesse sendo torcido.
Com medo de ir de desencontro com seus princípios, ao invés de se desesperar, Watashi passa a ficar o mais calmo possível, achando que dessa maneira tudo voltará a ficar no estado habitual. As horas simplesmente voam, e seu quarto passa a ser um lugar de descobertas. Livros e mais livros foram lidos na tentativa de passa-tempo. Watashi está com tanto tempo para pensar em sua vida, que a conclusão chegada é de que, o seu fracasso é culpa dos outros. Principalmente da velha cigana que perturbou sua vida em momentos nada convencionais. Mas isso não traz a satisfação desejada. Pelo contrário. Watashi fica mais perturbado ainda, e quer a todo custo voltar ao mundo exterior, mas não consegue. Se sente perdido como o Robinson Crusoé na ilha distante. Ele perde talvez aquilo que lhe era mais precioso: a noção do tempo. Não consegue ver a luz do sol, nem o brilho da lua. Agora ele mofa no mundo preto e branco da sua intimidade.
Dizem que quando você enxerga animais ou insetos aonde não tem, é porque você está se sentindo sozinho. Então. Watashi passa a ver baratas. Ao mesmo tempo em que se sente desesperado, noutrora pensava na possibilidade de estar com sorte, pelo fato de não estar lá fora, vivendo no mundo de fora.
Enxerguei em Tatami Galaxy a mensagem de que a busca pela felicidade tem que ser algo buscada e não apenas desejada. Por mais que o protagonista suasse a camisa pra tentar achar o caminho certo através das muitas possibilidades, era necessário antes de tudo, se despir e se aceitar. Ter em mente que o fracasso sempre vai fazer parte da vida, e o sucesso se encontra na porta ao lado. Ou o melhor, no Tatami mais próximo.
O objetivo do anime não foi mostrar o desenvolvimento da relação que Watashi tinha com a Arashi, mas sim mostrar como chegar até ele. Foi uma briga interna. The Tatami Galaxy faz bastante a minha praia, porém desde o começo olhei com um olhar muito duvidoso, por mais que eu estivesse já tarada pela arte do negócio. No entanto, o final me ganhou por completo. Gostaria de ter alguma crítica negativa para mencionar no final, pra não ficar muito um texto com cara de fangirl, entretanto, eu simplesmente não tenho coisas ruins para dizer. Talvez se citasse os diálogos rápidos, mas não acredito que isso seja algo ruim. A trilha sonora composta pelo Michiru Oshima também não deixa barato, e entrega um trabalho de altíssimo nível. O diretor Maasaki Yusa conduz cada cena com tamanha esperteza que me surpreendeu muito. Cada fragmento de cor fizeram meus olhos brilharem também, além dos movimentos de personagens e dos ângulos utilizados para mostrar os acontecimentos. Outra coisa bastante criativa na série também foi por optarem em colocar a abertura com música somente no episódio final, enquanto nos outros temos apenas a narração do protagonista e um pianinho clássico de fundo.
Enfim. Quando vejo os nego comentar por ai que não existe qualidade nos animes da nossa geração, The Tatami Galaxy me faz dar um sorrisinho de deboche.
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Aaaaah, antes que eu me esqueça, deixo com vocês a abertura linda do anime, assista, re-assista e se encante ♥ ♥ ♥
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