O exagerado Cyber City Oedo 808


Meninas também assistem cyberpunk!

Situado no ano de 2808, na cidade de Oedo em Tóquio, três criminosos chamados Sengoku, Gogol e Benten estão condenados à mais de 300 anos de prisão, por diversos crimes que cometeram em seu passado. Para aliviar essa sentença, eles foram convidados a se tornarem policiais e combater toda a criminalidade de sua cidade. Conforme vão capturando esses delatores, suas sentenças vão sendo abaixadas. Eles aceitam o acordo, na busca de se livrar do tédio da prisão. Porém, o castigo para o descumprimento de seus serviços é a morte, uma vez que cada um possui no pescoço um colar com explosivo. O chefe de polícia Hasegawa acompanha o desempenho deles, com o olhar cauteloso contando o tempo de cada missão, pois o não cumprimento dos deveres no prazo, resulta também em morte.

Cyber City Oedo 808 é um OVA composto por três episódios, animados pelo estúdio Madhouse. Lançado em 1990-1991, ele é dirigido por Yoshiaki Kawajiri, o mesmo de Wicked City, Ninja Scroll, Vampire Hunter D: Bloodlust e muitos outros. Em 1991 um jogo também foi lançado, com um enredo original. 


Visualmente, acho Cyber City Oedo 808 bonito. Tem pitadas de neo-noir, ajudando na obscuridade da trama, os personagens são muito exagerados no estilo - o que diferencia um do outro bem até demais. Na verdade, cada um é estranho a sua maneira. O primeiro, Shunsuke Sengoku é o mais ''normal'' de todos, dá até pra dizer que é o galã dos três. Beberrão e bom de briga, Sengoku foi condenado a 375 anos de prisão por ter cometido assassinatos no passado, roubo e fraude cibernética. Óbvio que, a história do primeiro OVA onde o estrelato fica por conta dele, tem o envolvimento de um hacker que está colocando a cidade em perigo. Afinal, isso não seria uma coincidência perfeita.

O segundo personagem, que toma conta do segundo OVA é o mais punk de todos; Gabimaru Rikiya ou Goggles como é constantemente chamado. Condenado a 310 anos de prisão por assassinato, roubo e vandalismo, este personagem faz a linha ''bruto, rústico e sistemático'' já que no diz ''invasão computadorizadas de segurança'', o cara é fera. Na história bolada para ele, Goggles terá que enfrentar o mercado negro de órgãos e partes humanas que são usadas para a construção de robôs. Na minha opinião, esse é o episódio mais interessante dos três por ter ido um pouco mais longe ao explorar o seu personagem, ainda que de maneira não exemplar.

O terceiro personagem, é o Merrill Yanagawa, conhecido como Benten. Dentre os demais, ele é o que tem o tempo de prisão mais ''curto'', com apenas 295 anos de prisão pelos mesmos crimes dos demais, acrescentando falsificação de tudo que se pode imaginar. Ele é o mais estranho de todos, pois possui um visual todo andrógeno, como o uso de batom e unhas grandes pintadas. Com uma agilidade tremenda, Benten terá que combater assassinatos em massa causada por bioengenheiros que trabalham em pesquisas de DNA.





A primeira impressão que tive e que se manteve até o fim, foi a sensação de estar inserido em um game. Isso porque a trilha sonora parece ter sido retirada ou feita especialmente para um. Eu li que no VHS britânico, as músicas foram modificadas, e ficaram à cargo de Rory McFarlane. E combinou bem mais com a série, visto que se trata de uma mistura de metal com eletrônica.  Trouxe um ar mais dark e violento. Na versão original japonesa, dá pra ver nitidamente um clima mais pop, basta assistir a abertura. Parece que quiseram deixar tudo com uma cara mais popular, ao invés, de se manter fiel a proposta obscura. Gosto da trilha sonora mas achei que poderia ter sido melhor, se inserissem um som mais pesado.

O cenário construído tem uma mistura distópica, e traz consigo um questionamento bacana acerca da violência que os cerca. Quanto mais tecnologia, mais criminosos. A situação está tão caótica que eles têm que colocar os próprios prisioneiros para combater eles mesmos. E como punição temos a inserção de uma morte absurdamente violenta, que é a explosão de cabeças. Violência sendo resolvida com violência. Apesar de toda a tecnologia, as soluções para os problemas ainda são antigas e ultrapassadas. Nesse ponto, acho uma construção de ambiente muito interessante.  


Uma coisa que me incomodou foi a expressão dos personagens. Uma cara não diferenciava da outra, por mais que possuíssem designer totalmente diferentes e característicos como o moicano de um. A cara de mal é sempre a mesma (cílios cerrados, sorrisinho de canto). Não dá pra ver movimento, os músculos do rosto é tudo muito duro e existem algumas cenas que transpareciam isso de mais. No entanto, as cenas de ação são bem animadas. O que torna a peça numa coisa ''assistível'' - apesar de achar que esses tipos de cenas estão saturados.

Há quem diga que as motivações dos três protagonistas seja bastante rasa, e nisso concordo. Não dá pra levar a serio criminosos sendo pau mandado da polícia, sendo que é nítido, que ao se livrar da pena, os mesmos voltarão para o mundo do crime. Não faz muito sentido. Em momento algum eu consegui torcer para os personagens, pois o carisma é zero. Tampouco me incomodo com as mortes de terroristas, pra mim, tanto faz como tanto fez. Não me importa. No segundo episódio por exemplo, uma ex-parceira de crime de um dos protagonistas surge, como se já tivesse aparecido antes, e morre de uma maneira muito ensaiada e didática. Não há peso nenhum. Os poucos diálogos que antecedem sua morte, não são capazes de criar um vínculo de dó pela personagem. REALLY, DON'T CARE!!!!


Dito tudo isso, concluo que Cyber City Oedo 808 é extremamente exagerado. Nitidamente, percebe que o Yoshiaki Kawajiri quis embarcar no sucesso do até então recente Akira. Pra isso ele usou de todos os artifícios para chamar a atenção do público, seja no envolvimento na criação do designer chamativos dos personagens ou da própria história repleta de clichês. Isso me lembrou o Spriggan (1998), filme este que poderia ter se tornado uma obra boa se não tivesse dado um passo maior que a perna. Bato na tecla e digo que geralmente a fórmula ''menos é mais'' é a receita do sucesso pra construir um envolvimento mais sólido. Não basta dar tiros pra todos os lados, como esse OVA fez. Porque assim não existirá interesse e muito menos urgência nos acontecimentos realizados por mais que exista muita ação.

Falando em tiros para todos os lados, teve uma frase dita por um dos personagens para o vilão de um dos episódios que me chamou bastante atenção, que é esta: ''Nada dura para sempre, exceto seus crimes que são eternos''. Fiquei pensando que se explorassem mais em cada um, a questão da criminalidade (e não somente tão superficialmente como foi), teríamos uma animação digna de ótimas lembranças. 
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