Uma observação crítica do que está acontecendo no Brasil, envolvendo o anime Mirai Nikki.
Hoje eu peguei meu celular e me senti em Mirai Nikki. Sim, como se eu estivesse num jogo, onde meu futuro já estava escrito, e houvessem centenas de pessoas prontas para me matar e exercer o cargo de Deus soberano. Isso porque, entrar numa rede social qualquer, como o facebook por exemplo, é um pedido para ser bombardeado por semi-deuses, conhecedores de coisa nenhuma, impondo suas verdades absolutas no coleguinha que mora no outro lado do mundo. Ninguém escapa do olhar maldoso, e de um tapa na cara. Qualquer assunto, é motivo para o ódio gratuito. O exemplo mais fresco disto, é a briga idiota que está rolando pela internet sobre o atentado na França X desastre em Mariana. Essas pessoas mal sabem que esta guerra cibernética não é nenhum pouco diferente do que acontece no mundo, e como todos nós sabemos, isso nunca acaba bem. Só porque temos o poder em nossas mãos, de escolher o que queremos para as nossas vidas, não nos dá o direito de impor nossas regras para os outros. Cada forma de solidariedade é bem-vinda, o amor não pode ser discriminado e taxado como um erro. Se colocar no lugar do próximo é o exercício mais eficiente para alcançar o amor e a compaixão em sua verdade. Por isso, não sejamos tolos. Não podemos controlar nem os nossos próprios futuros, quanto mais o do coleguinha ao lado. Não vivemos dentro da porra de um anime. Isso aqui é vida real. Por favor, compreenda todas as formas de amor e não transforme o seu em algo como o da personagem Yuno de Mirai Nikki.
E por falar em Mirai Nikki, pra quem não sabe, se trata de um mangá escrito e ilustrado por Sakae Esuno, que teve início em 2006 e foi finalizado em 2010 com 12 volumes pela Kadokawa Shoten. Uma versão televisiva também foi feita pelo estúdio Asread contendo 26 episódios + OVA , pelo diretor Naoto Hosoda entre 2011 e 2012. Mirai Nikki também ganhou um dorama com 12 episódios, e uma continuação em mangá com 3 volumes. No Brasil, o mangá chegou pela editora JBC em 2013.
A história pode estar fresca ainda na maioria das nossas memórias otakas, visto que se trata de uma obra até então recente, seja em anime ou mangá, porém não custa nada recontar novamente alguns pontos. Pois bem. Imagine que você é um garoto chamado Yukiteru, que assim como todo bom adolescente frequenta a escola e tem um celular pela qual você é viciado. A obsessão (guarde bem essa palavra) se torna tanta que você escreve tudo o que acontece no seu dia, a ponto de considerá-lo um diário. Certo dia você passa um grande cagaço ao descobrir que seu futuro já está escrito misteriosamente, por um Deus dominador de tempo e espaço. Você então, descobre que está inserido numa espécie de jogo de sobrevivência, aonde você poderá se tornar um Deus ou então morrer. Dentro deste game, você terá que se envolver com pessoas perigosas, que farão de tudo para também conseguir o mesmo que você; matar gente e conseguir o cargo almejado. No final, somente um poderá ser o sucessor de Deus.
Calma que não acaba por aí, a ''melhor'' parte vem agora. Yukiteru acabará se envolvendo com uma namoradinha stalker do seu colégio, que colocará mais lenha nessa fogueira, tudo segundo ela, pelo ''amor''.
A ideia principal soa bacana ao meus ouvidos, mesmo que seja água com açúcar. Me parece um grande berço para explorar a relação que o japonês tem com a tecnologia, isolamento e romance. E de fato, esse aspecto é bem vívido na obra, porém, não de maneira religiosa. De quando em quando, o que era pra ser uma aparentemente uma obra de terror ou algo do tipo (visto a forma como o conteúdo se vende, basta assistir a abertura pra perceber), existe uma miscigenação de personalidades ali, que irão fazer com que Yukiteru e a Yuno mostrem um lado descontraído e nenhum pouco ameaçador. Eu gosto de me simpatizar pelas pessoas erradas, de torcer pelo vilão por exemplo. Só que no caso aqui, ficou bem irritante no final das contas. Ao longo do percurso, nota-se que os protagonistas se tornaram a ameaça, como também a ingenuidade. Segue-se então, uma mistura de estados de espíritos e sentimentos confusos, pois ao mesmo tempo que em Yukiteru sentirá carinho pela desmiolada Yuno, o mesmo sentirá medo e fobia. Ou seja, bipolaridade é a palavra que define suas características ali. Logo em seguida, a palavra que os define é a obsessão, visto a insanidade clara da Yuno em querer defender sua paixão dos perigos, e o propósito de Yukiteru em se tornar um Deus. A princípio se percebe que a intenção ali é viver o máximo possível, logo depois, percebe que o cargo imposto é levado mais a sério, a ponto de esquecer de quem ele costumava ser. Isso claro, levando em conta os momentos descontraídos que a série levanta em meio a tudo isso. Percebe o que quero dizer? Tem algo muito sério rolando ali, porém a narrativa faz parecer algo sem importância. Ou seja, a relação dos dois passa a ser uma palhaçada. Não me dá medo, me dá raiva. No mais, a serialidade vira diversão sem propósito.
O que de concreto eu posso tirar da série e trazer no debate, é os coadjuvantes que enfeitam a obra, como luzes natalinas numa arvorezinha sem cor e sem boa estrutura. Cada um deles, seja o professor serial killer, o policial detetive, a sacerdotisa, a criança, o casal, a dona do orfanato, a terrorista, o domesticador de cães e sua filha, o prefeito ou o herói, enfim, os portadores dos diários eletrônicos, tem uma participação importante na história, embora, às vezes cansativa. Cada um deles revela uma faceta do ser humano possessivo, porém em alguns momentos amoroso, até mesmo com seus inimigos, como foi a aliança que Yukiteru faz com alguns deles pra destruir outros, sobre o pretexto de ambos saírem beneficiados. Bom, é nessas horas que dá pra perceber o que disse anteriormente, de que Yukiteru esquece seu lado humano e se torna mais assassino do que os próprios assassinos. Enfim. A condução de personagem vai bem como o planejado, no entanto, eu não concordo na onde ele me leva. Eu não sei se gosto ou não do personagem, mesmo que ele esteja se tornando um bom vilão.
Assim como muitos, eu também gostei da primeira parte do anime, mas depois tudo soa confuso. É tantas reviravoltas que eu fico tonta e enjoada. Pra minha sorte, o final se salva, mas não é lá essas coisas, visto que ainda ficam pontos confusos na história. O plot geral de Mirai Nikki é bacana, mesmo que seja um thriller genericaço, e existam características interessantes para se pensar, no entanto, não é mostrado de um jeito para se levar adiante. A animação está bem executada visualmente falando, eu gosto muito da abertura e do encerramento, tanto da música como do que é mostrado. Nessa perspectiva, ele promete com o prometido ali. Tem muita ação, e situações de suspense, e além claro, da violência, mas nada vai além disso. A obra peca no aprofundamento, transformado assim o resultado final numa coisa rasa. O carácter designer é 'o que tem pra hoje'; eu particularmente não gosto. Por isso, chego na conclusão que Mirai Nikki diverte bem se for acompanhado com o cérebro desligado.
Em resumo da ópera, não dá pra se esperar uma profundidade realista da dramatização. A ação está colocada apenas para o deleite visual. Não adianta chocar pela violência, se os personagens são superficiais demais. A mesma coisa pode ser dita, da agressão verbal que rola na internet, como disse no início. Ofender quem demonstra preocupação por uma causa, não lhe torna melhor do que ela. Pelo contrário. Só prova o quanto a ignorância é grande, pois quem deposita seu ódio em uma guerra sem sentido, nada mais é do que um atraso para o mundo.
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