Adeus, Digimundo.

Este não é um texto de análise, review ou crítica sobre a franquia Digimon, e sim sobre o que significou acompanhar este universo durante os últimos 20 anos e sobre o que talvez signifique os acontecimentos de toda série de Digimon Adventure, que chegou ao fim em 2020. Mas você vai encontrar um pouco de análise, review e crítica aqui também, e um pouco sobre mim, sobre crescer, sobre dizer adeus, e sobre você. Mas também pode não ser sobre nada disso.


O enredo de Digimon Adventure sempre nos pareceu muito claro: um grupo de crianças escolhidas para ir a um mundo desconhecido e dominado por criaturas digitais, pois algo dentro delas é poderoso e único o bastante para salvar este mundo do mal que ele próprio não consegue derrotar. E assim como as épicas jornadas de heróis que nos foram apresentadas em forma de filmes nos anos 80 e 90, conquistava sem muito esforço qualquer criança entre o começo e o fim do ensino fundamental. Mas o que não esperávamos, é que depois de 20 anos de sua criação, veríamos esse enredo evoluir com sua geração e terminar de forma tão emocionante.

Assim como a morte é a consequência inevitável da vida, os spoilers são inevitáveis para a construção desse texto. Se você aceita e está de acordo com esse futuro, pode continuar.


O Início

Calma, antes de chegarmos ao fim, porque não relembrar de alguns outros momentos? Digimon Adventure foi o primeiro anime da franquia a ser lançado, lá em 1999. E durante 54 episódios, acompanhamos 8 crianças (Taichi, Yamato, Sora, Mimi, Joe, Koushiro, Takeru e Hikari) dando o seu melhor ao lado de seus parceiros digimon para salvar tanto o Digimundo, quanto a Terra. Em meio a isso, eles passam por situações perigosas onde precisam aprender a trabalharem juntos e crescerem para triunfar. Desta forma, eles amadurecem e alcançam a evolução dos seus digimon através do autoconhecimento, simbolizado pelos brasões da: coragem, amizade, amor, sabedoria, inocência (sinceridade na versão ocidental), confiança (a versão original passa também a ideia de fé), esperança e luz. Através desse processo de autoconhecimento, as crianças descobrem suas virtudes dominantes e com elas, conseguem mudar o mundo.


Em sua continuação, Digimon Adventure 02, a história se passa 3 anos após o fim do primeiro anime, quando um novo grupo de digiescolhidos herda essas virtudes e é convocado para salvar mais uma vez o Digimundo (Daisuke, Miyako, Iori e Ken), enquanto que do grupo original, apenas os dois mais jovens, Takeru e Hikari (Esperança e Luz) continuam como parte desse novo grupo. Os antigos digiescolhidos estão em outra fase de suas vidas, portanto, apesar de ajudarem às vezes, não são mais os protagonistas.

Após o término de Digimon Adventure 02 em 2001, diversos outros animes, filmes e jogos de Digimon foram lançados, porém, nenhum deles continuava os acontecimentos do fim de Digimon Adventure 02, que havia encerrado o enredo, mostrando que no futuro todos já estavam crescidos e felizes com seus Digimon. Porém, todas as outras mídias tiveram extrema importância para a formulação do complexo universo que Digimon se tornou. E é por isso que nós todos ficamos muito surpresos com o anúncio de uma continuação com Digimon Adventure tri, 16 anos após o primeiro Digimon Adventure.


Lá e de Volta Outra Vez



Apesar de ser lançado em 2015, os acontecimentos de Digimon Adventure tri se passam em 2005, apenas 5 anos após o fim do primeiro anime, e antes do episódio final de 02 onde todos já estão adultos, e por isso, todos os personagens ainda se encontram na adolescência – sim, eu sei que é complicado de entender essas datas, por isso deixei um vídeo explicando a cronologia de Digimon no fim desta matéria 😉. E é neste ponto onde tudo fica muito mais complexo.

A terceira temporada de Digimon nos vendeu a nostalgia logo no primeiro pôster, mas acabamos levando para casa muita confusão e incerteza. Foi lançado inicialmente na forma de 6 filmes, e depois dividido em 26 episódios disponíveis no Brasil pela Crunchyroll. Em seu enredo, os 8 primeiros digiescolhidos são novamente convocados para se juntarem aos seus parceiros digimon para enfrentar um novo inimigo. Uma nova digiescolhida chamada Meiko e sua parceira Meicoomon são introduzidas ao grupo.

Tri foi largamente criticado dentro da comunidade, ora pela sua morosidade, ora por sua complexidade absurda. Isso se dá ao fato de que decidiram incluir muitas informações, que boa parte do público não fazia ideia de que existia. Vários dos acontecimentos, por exemplo, só haviam ocorrido nas séries paralelas à franquia Adventure, o que acabou prejudicando a sua compreensão. E também pela sua temática adulta, e muitas vezes, um pouco cruel, em comparação com o que já havíamos visto. Digimon agora havia evoluído.

Colocando as críticas de lado – e os furos de roteiro – Tri tem uma mensagem muito poderosa, e por isso também surpreendeu positivamente muitas pessoas. Ele nos mostra as angústias de um futuro incerto, cruel e eminente. Lidamos com temas como a perda, a morte e a injustiça. E com a mensagem de que mesmo quando tudo acaba bem, alguém ainda continua triste. É nessa temporada, também, onde as coisas começam a entrar em contradição. O que era uma virtude para uma criança, pode ser a inconsequência de um adulto. Um comportamento de repúdio social. Digimon Adventure Tri simboliza o prelúdio do fim.


Taichi se questiona constantemente se é realmente prudente ser corajoso no mundo real, depois de ver o poder devastador dos digimon e temer pela vida das pessoas ao seu redor. Ele hesita, ponderando até que ponto uma atitude de bravura pode ser considerada imprudência. E isso afeta profundamente o seu papel como líder.

Yamato direciona sua frustração a Taichi, pessoa que ele mais admirava entre seus amigos, pois a angústia pela possibilidade de estar perdendo os laços de amizades com o passado, o enche de desespero. Apesar de tentar lidar com isso, sua falta de experiência e sua dificuldade de se abrir com os outros, faz com que tenha explosões de emoções difíceis de lidar.

Mimi é colocada entre a parede sobre suas atitudes espontâneas e egoístas, que durante sua infância eram parte marcante de sua personalidade e a destacava entre todos, mas que agora são um empecilho em meio a dura sociedade japonesa. Ela passa a se odiar por ser quem é, e constantemente se questiona se realmente vale a pena deixar de ser ela mesma em troca da aceitação social.

Joe, que sempre se sujeitou aos desejos de sua família para estudar e ter uma carreira importante como seu irmão, se vê em dúvida se a sua covardia é realmente parte dele, ou se há alguma esperança dentro de si, mostrando que vale a pena tomar as rédeas de sua vida. Ele percebe que tem deixado de viver e decepcionado todos a sua volta, inclusive ele mesmo, em busca de um sonho que ele ainda não acredita. Então procura sua redenção na fé em si mesmo.

Sora continua priorizando o bem-estar de todos antes do seu. Por essa constante negligência pessoal, algo em seu coração dói e ela sabe que precisa mudar isso. Sabe que há espaço para amar a todos e ainda se amar. E que talvez essa prioridade era apenas uma forma de tentar fugir daquilo que ela sempre soube que teria que enfrentar.

Koushiro em se sente pressionado 100% de seu tempo, e sua busca insaciável em tentar encontrar uma solução para tudo, se mostra infrutífera, e mesmo com a tecnologia a seu favor, ele ainda é incapaz de salvar quem mais ama.

Takeru e Hikari, apesar de passarem por situações que também geraram crescimento pessoal, não são o foco nessa evolução. Vistos como uma outra geração, seu papel é de observar, participar e levar consigo tudo isso para o futuro.

Tri termina com a mensagem de que a partir de agora os digiescolhidos são os protagonistas de seus próprios futuros. Rejeitados pelo Digimundo, eles trilham o próprio caminho ao lado de seus digimon, mesmo sabendo que a partir da agora tudo será mais difícil e incerto. É a forma deles dizerem que aceitam o amadurecimento, e que não são mais adolescentes, mas adultos, que entendem as consequências.

A introdução da nova digiescolhida, Meiko, é antes de mais nada, um desconforto. Uma mudança forçada em um grupo estabelecido, acomodado. Seu desenvolvimento pobre, deixa claro que ela nunca foi o foco, mas parte do agente da mudança.

Meiko e Meicoomon.


A Aventura Final



Em 2020, tivemos o filme Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna, que marca o fim do universo de Adventure. O subtítulo significa “o último vínculo de evolução” (tradução livre) e apenas confirma que esse é realmente o fim. O filme ocorre 5 anos após os acontecimentos de Tri, e os personagens agora já estão na faculdade e iniciando suas carreiras profissionais. Os digimon já são aceitos como parte do mundo, assim como outros digiescolhidos.

Kizuna é a consequência do fim de Tri. É o ponto final que faltava, mas que naquele momento ainda era muito cedo para ser colocado. Eles já tinham passado por muita coisa, era necessário um descanso. E geralmente, é nos intervalos que as coisas fazem mais sentido.

A trama começa com a seguinte frase:

“Quanto mais as pessoas aceitarem o que o futuro as reservou, menos vão envelhecer. Faremos qualquer coisa para atingir maiores alturas. Esta não é uma história sobre o passado. É uma nova história sobre nós e nossos Digimon. É nossa nova aventura com eles.”

Todo mundo bonito e crescido 😌


No filme, Taichi e Yamato, são os únicos entre os 8 primeiros digiescolhidos que ainda não decidiram o seu futuro profissional. Koushiro já é o presidente de uma empresa de tecnologia com foco na integração entre a Terra e o Digimundo; Mimi é uma empreendedora de e-comerce; Sora seguiu os passos de sua mãe no Ikebana; Joe já está na faculdade de medicina; Hikari quer se tornar professora de jardim de infância; e Takeru está escrevendo um romance.

Tudo começa de forma bem nostálgica. Um Parrotmon descontrolado surge no meio da cidade e Takeru, Hikari, Taichi e Koushiro tentam desesperadamente enviá-lo de volta ao Digimundo antes que ele cause muitos estragos – o que não dá muito certo. Uma coisa interessante é que agora eles conseguem usar os celulares como digivice, graças a empresa de Koushiro. Alguns prédios são destruídos, algumas pessoas provavelmente quase morrem, mas em certo momento Yamato chega – com estilo – e eles conseguem enviar o Parrotmon de volta. Antes desse acontecimento, havia relados no mundo todo de uma estranha aurora boreal sendo avistada por quase todo o globo e Koushiro suspeita que isso possa ter desencadeado o comportamento agressivo do Parrotmon, que geralmente não age assim. Ao terminar a luta, Taichi e Yamato se despedem apressadamente de todos e partem para a sua rotina diária. Enquanto Hikari e Takeru ficam de babá dos digimon deles. Butterfly começa a tocar e a nostalgia é fechada com chave de ouro ao mostrar todos os outros digiescolhidos em suas rotinas, seguindo com suas vidas.

Greymon vs Parrotmon na batalha do primeiro filme da franquia, lançado 1 dia antes do anime.


A rotina de Taichi e Yamato, entretanto, é cheia de inseguranças. Eles passam os dias presos em pensamentos, e as noites solitárias, porque sabem que todos os outros já se encontraram, e o futuro deles está incerto. Até que em determinado momento, enquanto conversam exatamente sobre isso em um bar, uma pessoa desmaia e então, um novo inimigo surge.

Koushiro descobre que vários digiescolhidos pelo mundo estão entrando em um misterioso coma, e seus digimon sumindo. Ele então convoca Taichi, Yamato e Takeru para verificar. Neste mesmo momento, somos apresentados a personagem Menoa Belluci, que se identifica como uma professora universitária, e pesquisadora de digimon, que também irá ajudar no caso.

Aparentemente, um digimon chamado Eosmon está por trás desses sequestros digitais. Com seu poder ele é capaz de copiar as memórias das pessoas digitalmente, e ao fazer isso, induzi-las ao coma. Mesmo utilizando a sua evolução mais poderosa, o Omegamon, eles falham ao tentar derrota-lo, e Eosmon foge ainda mais forte. Ao retornar ao mundo real Taichi e Yamato notam que em seus celulares surge um anel brilhante com vários ponteiros de luz. Menoa diz que esse relógio marca o tempo restante do elo com seus digimon. Quanto mais tempo se passa, ou quanto mais eles digievoluírem, mais rápido as luzes irão se apagar, até que o vínculo entre eles seja quebrado e o digimon desapareça para sempre.

Menoa explica também que os parceiros crianças são escolhidos por causa do seu enorme potencial. Como elas ainda não têm um futuro definido, o poder dessa incerteza pode tornar qualquer coisa possível. O crescimento e o potencial combinado, se torna o maior combustível para a evolução do digimon. Mas conforme crescem, e seus caminhos começam a tomar forma, esse potencial diminui e com ele o vínculo com os digimon também vai se enfraquecendo, até sumir. Em outras palavras a evolução é a sua própria sina.


Isso é muito triste. Pois é neste momento em que os nossos protagonistas sentem na pele que um futuro eminente e doloroso está bem mais próximo do que eles imaginavam. Por um lado, eles têm a possibilidade de aproveitar esse tempo da melhor forma possível com seus digimon, tentando prolongar ao máximo, e por outro, eles são os únicos que podem derrotar Eosmon e salvar os outros digiescolhidos do coma, mas se o fizerem, seu vínculo irá se quebrar mais rapidamente. Mas por que eles são os únicos que podem?

O anime não deixa isso claro, mas analisando os acontecimentos de Tri, quando todos finalmente conseguem atingir a forma final de seus digimon – tirando Taichi e Yamato que haviam conseguido isso ainda crianças –, eles estavam na fase máxima de seu potencial, e após aquela ocasião, o potencial deles começou a diminuir. E quanto mais eles aceitaram a vida adulta, menos energia eles forneciam aos seus digimon, danificando seus vínculos. Tanto que mesmo Hikari, Takeru e Koushiro (os mais novos), só digievoluem seus digimon nas primeiras formas. Tá. Mas, e os outros?

A escolha de Sora por não lutar, é a sua própria luta por identidade e liberdade. Ela abre mão de seu papel como uma guerreira digiescolhida. E é aqui que entra um ponto muito importante no desenvolvimento da personagem. Se em Tri nós vemos o drama de Joe com seus estudos muito bem trabalhado, é em Kizuna que percebemos a complexidade da escolha de Sora. Ainda em Tri ela percebe que nunca foi a própria prioridade. O seu brasão do amor, que até então, parecia significar um amor altruísta, se mostra muito mais complexo – como o amor realmente é. Surge um forte sentimento de amor próprio e maduro. Mas não confunda com egoísmo, pois está longe de ser isso. E a maturidade é recíproca, pois, seus companheiros entendem e aceitam sua escolha, sem deixar de vê-la como parte do grupo. No curta lançado pouco antes do filme e intitulado To Sora (Para Sora), vemos a nossa personagem se preparando para sua primeira exposição de flores, mas ainda buscando sua identidade. Apesar de estar um pouco distante de seus amigos, sente um enorme aperto no coração por ter decidido seguir seu próprio caminho, mas pouco a pouco vai se aceitando e se sentindo melhor. É o desenvolvimento que ela sempre mereceu.

Cena do curta To Sora.


Ela finalmente se distancia da problemática associação como a “mãe” do grupo, como se seu único papel fosse o de se preocupar com todos e sua força se baseasse apenas nisso. O que nada mais é do que reflexo da nossa sociedade machista, que impõe responsabilidade nas meninas e passa a mão na cabeça dos meninos. Seus problemas na infância com a sua mãe, fizeram dela uma menina rebelde, se forçando a fazer coisas contrárias ao seu gosto apenas para tentar fugir de quem era. Enfim, agora ela pode ser ela mesma.

Joe, estudando medicina, já aceitou seu futuro, portanto, apesar de ainda ser um digiescolhido, não luta mais ao lado de seu grupo. Mimi ainda está disposta a lutar e sempre dá um jeito de aparecer para relembrar dos velhos tempos. Os digiescolhidos de Adventure 02 também estão dando o seu melhor, mas já não são mais os mesmos. De certa forma, todos eles já deram seu adeus ao Digimundo há muito tempo. Os outros digiescolhidos espalhados pelo mundo, ao que tudo indica, apenas tem seu digimon como parceiro, e nunca foram chamados para as batalhas pelo Digimundo.

Os digiescolhidos de 02 continuam com a sina de sempre serem vistos como coadjuvantes.


Recai então o peso do futuro nos ombros de Taichi e Yamato, com seu potencial restante. Seu sacrifício final. No que se desenrola a partir disso, são os inevitáveis acontecimentos da vida adulta. Os dois, ao lado de seus parceiros, enfim percebendo como já estão crescidos, e que mesmo não aceitando, em suas vidas já não há mais espaço para esse passado de guerreiro. E que na verdade, o que os mantém presos a essa sina, são seus próprios digimon.

O fim da trama explora essa contrariedade. A vilã, Menoa, havia criado Eosmon para tentar recuperar sua infância perdida, usando a desculpa de que iria salvar todos os digiescolhidos, evitando com que crescessem e perdessem seus digimon. Para isso, ela cria um mundo digital falso, onde todos viverão eternamente crianças, como uma espécie de Neverland. A luta final dos protagonistas não é para salvar os digimon, o Digimundo, a Terra ou o equilíbrio dos mundos (como anteriormente), mas sim para salvar o futuro de todos os digiescolhidos. É dar a oportunidade de eles crescerem e passarem por todas as fases da vida, assim como deve ser, por mais cruel que possa ser.



É só ao aceitarem seu futuro sem seus digimon, que Taichi e Yamato conseguem alcançar a forma máxima da digievolução. Uma digievolução humana. Agumon e Gabumon, que sempre tiveram atitudes infantis, se mostram muito maduros aceitando o fim seu vínculo, pois por mais triste que possa ser, também é algo natural. Mesmo que seja mais cedo do que os outros, foi uma amizade bonita e sem nenhum arrependimento. Ainda no final, durante a cena mais triste de todas, Taichi e Yamato aproveitam seu último dia com seus digimon, e finalmente quando eles descobrem o que vão fazer a seguir, seus amigos não estão mais lá. Se foram para sempre. É poético, e muito, muito triste.

“E foi nesse momento que finalmente crescemos. Mas nossa história não terminou. Está evoluindo numa nova direção.”



Digimon é um Drama Millennial


Digimon
e o Digimundo simbolizam uma geração, e os degiescolhidos, as pessoas que nasceram nessa geração. Assim como eles, nós não escolhemos ter nascido nessa época, e mesmo assim, fomos forçados a lidar com os problemas que surgiram nesse momento, apesar da maior parte deles derivar dos que nos precederam. A tecnologia como plano de fundo, simbolizando o mal desconhecido da década, e as crianças que instintivamente sabiam lidar melhor com isso. “Instintivamente”, porque a verdade é que eles também não faziam ideia de como lidar, mas mesmo assim lidaram. O fatídico fardo sendo passado negligentemente aos mais novos, porque quem deveria assumir ainda está tentando arrumar a bagunça que deixaram antes disso. Esse fato, porém, não é exclusividade dos Millennials, mas é o empurrão precoce para fora do ninho com potencial de fazer tanto o bem quanto prejudicar.

Até mesmo o “relógio de luz" marcando o tempo restante com seus parceiros, é uma alegoria à ansiedade do jovem adulto, sendo pressionado pela sociedade a se definir mesmo antes de realmente se conhecer. Cada ponteiro de luz que se apaga, faz com que fiquemos aflitos, já imaginando a solidão do futuro. Só ficamos em paz quando aceitamos que não é possível lutar contra o tempo, mas aprender a evoluir com ele.

De qualquer forma, eles assumiram o papel. E não apenas isso. Assumiram também, conforme cresceram, a responsabilidade de lidar com quaisquer consequências que suas ações tenham gerado. E mais ainda, se tornaram as vozes físicas do universo digital. Em outras palavras, eles são a prova de que os mundos podem viver em comunhão, e que não é necessário temer algo assim, mas aprender a evoluir em conjunto. E que isso não é apenas responsabilidade dos digiescolhidos, mas de toda a sociedade, independente da idade.

No caso de Taichi e Yamato serem os últimos a aceitarem seus destinos, de dizer adeus ao Digimundo, faz deles os últimos representantes dessa geração. Da nossa geração que começou com eles lá em 1999, e que agora já está crescida (até demais 😭). Eles simbolizam o nosso amadurecimento tardio, porém inevitável, que sai do ninho, mas sempre acaba voltando. E não é à toa que seus irmãos mais novos representem respectivamente a Luz e a Esperança. Seus papéis são de apoiarem a Coragem e a Amizade, e mesmo quando essas duas virtudes não estiverem mais presentes, a Luz e a Esperança continuarão no futuro, apoiando a próxima geração, e a próxima, e as outras depois disso.

Digimon sempre foi sobre os digiescolhidos. Sempre foi sobre essa geração. Diferente de Pokémon, ele cresceu com a gente, focou em um público só e evoluiu com ele. Mesmo que não nos indentificássemos completamente com o estilo de vida das crianças japonesas no fim dos anos 90, a linguagem, e a mensagem que o anime passava para as crianças da época, fazia muito sentido. E fez muito sentido a continuação e também seu fim.

E se você ainda não assistiu Digimon Adventure tri ou Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna, não perca tempo, pois pode ser a sua última chance de ouvir as mitológicas músicas Butterfly e Brave Heart em seu esplendor.


O Futuro


A história de Digimon Adventure, que começou em 1999 e foi até 2020, chegou ao fim. Mas ainda não terminou. Eles continuarão vivendo suas vidas, com ou sem seus digimon. E quem vier a seguir vai lidar com o que quer que aconteça. É por isso que o Reboot do universo lançado também em 2020 é importante. Se por um lado, um legado se encerrou, outro está apenas começando. Apesar de reciclarem os personagens, Digimon Adventure 2020 (já disponível na Crunchyroll), não é sobre o mesmo grupo. É sobre o agora. É um novo recomeço, uma chance de identificação para uma nova geração. Os temas tratados serão voltados para as questões que as crianças estão enfrentando na terceira década desse milênio. Mas não tem problema ainda acompanharmos, pois, olhar para o futuro, pode ser a forma mais memorável de relembrar daquilo já demos adeus.

Muito obrigado se você leu até aqui. É por você que eu continuo escrevendo.

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Se quiser entender melhor sobre a mensagem e os acontecimentos de Digimon Adventure tri, veja esse vídeo do canal Qualquer Coisa: Não dá pra entender DIGIMON TRI. E esse daqui também, do Canal GD: Explicando o final de Digimon Adventure tri.

Para entender a confusa cronologia da saga Adventure, veja esse do Canal GD: ENTENDA A CRONOLOGIA DE DIGIMON

O curta To Sora, que serve de prelúdio ao filme Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna.

Se as decisões da Sora ainda não fazem sentido para você, veja esse vídeo, também do Canal GD, sobre A EVOLUÇÃO DA SORA e porque ela é importante.

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E até a nossa próxima aventura!

2 comentários:

  1. Ótima matéria, traduziu exatamente cada fase dessa história que evoluiu junto com toda uma geração, boas referências as dos vídeos, esse vídeo do qualquer coisa me ajudou bastante a entender melhor o tri quando saiu. Só um detalhe, em quase todo o texto está Yagami ao invés de Yamato.

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    1. Fico muito feliz por ter gostado. E muito obrigado por avisar do erro. Já foi corrigido! ;)

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