Genshiken (2002) : Redescobrindo uma Identidade Guardada




Não achei uma frase legal pra pôr aqui :/

Genshiken pode não parecer, mas é um mangá extremamente pesado. Seja pelos quadros cheios de diálogos, ou pela história calma, ao longo de cada capítulo, o processo de mastigação se tornou uma tarefa dificultosa para mim. Os personagens não são atrativos, na verdade, eles são como eu e você. Pessoas comuns que são unidas pelo hobbie e pelo laço afetivo. Assim como sua proposta inicial não é nenhum um pouco espalhafatosa, o desfecho não é nenhum pouco estrondoso como tinha de ser. Então, o que instiga o leitor? Bom, talvez seja porque existe uma característica corriqueira sendo estabelecida ali. E porque o usual não é mostrado com indelicadeza.

O Mangá criado por Shimoku Kio, foi serializado originalmente na antologia de mangás da revista mensal Afternoon da editora japonesa Kodansha de Junho de 2002 até Junho de 2006, e foi reimpresso em 9 tankoubons. Mais tarde, ganhou uma continuação, intitulada ''Genshiken Nidaime'' em 2010. O mangá também recebeu duas versões em anime contendo 12 episódios, 3 OVAs e uma Light Novel. No Brasil, Genshiken foi publicado pela JBC.

Genshiken segue a vida de um grupo de estudantes universitários unidos pelos seus hobbies, e as provações e aventuras recorrentes na vida de um otaku. A história começa com a introdução de Kanji Sasahara, um calouro tímido e sem auto-confiança que, no dia dos clubes na universidade, decide participar de um clube que ele realmente goste, Genshiken. Durante seus quatro anos na Universidade, Sasahara passa a aceitar a si mesmo por quem ele é e perde a inibição e culpa que tinha e se associa à cultura otaku, tornando-se um membro entusiasta do clube, e por um tempo, um competente presidente do clube.

Conforme a história de Genshiken progride, o foco também é colocada em Saki Kasukabe, uma não-otaku determinada que inicialmente se esforça para arrastar o namorado para fora do clube, e Chika Ogiue, uma auto-proclamada odiadora de otakus que sente uma profunda vergonha e auto-aversão para com seus próprios interesses e hobbies.

Durante o decorrer da série, o leitor testemunha o crescimento do grupo e de sua coesão ao longo do tempo, e a formação de vínculos entre os personagens, que começam a ver-se como mais do que companheiros de clube, mas como amigos. Neste contexto, as atividades do clube, tais como passeios de grupo, a peregrinação semestral para Comifes (Comiket) , ou simplesmente vagar pela sala do clube, permitem que as complexas relações entre os personagens se transformem em amizade, paixão e, até mesmo amor. Embora alguns deles não possuam interesses ou estilos de vida em comum, são ligados pelos laços de amizade que compartilham.
Fonte: Wikipédia




Esse é um mangá que não tem protagonista, por mais que pareça que o Kanji Sasahara o seja, por dar o destaque inicial. O que temos aqui é um grupo de pessoas, tentando buscar uma compreensão uns nos outros. A partir do momento em que Sasahara é incluído no grupo Genshiken - mesmo que meio sem querer - fica claro qual é o propósito da história; achar um jeito de ser incluído num grupo, onde suas fantasias mais estranhas seja compreendida. Por mais que de início ele exite, com o passar da convivência, Sasahara vai deixando sua timidez de lado, e acaba sendo ele mesmo, sem ter que se preocupar com que os outros vão pensar, afinal, tudo mundo ali é igual - exceto certas pessoas, mas basicamente não existe um julgamento por parte deles que afete suas personalidades originais.

Partindo dessa premissa, cada personagem passa a ser especial dentro da história. Porque o foco é mostrar essa junção de personalidades, proximidade e influência uns sobre os outros. Isso que é o mais bacana. O slice of life talvez tenha prejudicado um pouco o desenvolvimento da história, porém, eu entendo o porque dela estar inserida ali. Justamente, para dar o toque de realidade que o roteiro precisava. Só que essa realidade tem hora que cansa. Talvez seja essa a intenção do autor, ou talvez eu esteja só pensando demais. Mas o fato é que desgasta. A rotina desses otakus é difícil. Manter o que eles são, dia após dia, é uma tarefa que chega a ser doloroso de acompanhar. Se isso foi uma jogada de sentimento proposital do Shimoku Kio eu não sei, mas que isso no final das contas soou inteligente, isso soou. 

Uma outra característica interessante na obra, é que o mangá consegue falar de nerdice para otaku, sem ser ofensivo. Genshiken não se trata de uma crítica ao comportamento desses adolescentes, mas sim como se fosse um ombro amigo. É como se os personagens convidassem o leitor a fazer parte daquele grupo. Como se eles entendessem o seu gosto por completo, porque em alguns momentos dá pra se enxergar naqueles personagens. Mais uma vez repito: não sei se isso foi proposital, no entanto, é uma metalinguagem interessante de se imaginar. Agora, para o público não-otaku que ler ou assistir essa obra, Genshiken pode se tornar maçante e tedioso. Até porque, a história não tem começo, meio e fim. O tempo todo é só desenvolvimento. Se a pessoa tiver acostumado com slice of life é um ponto à mais, porém, pode ser que cause estranheza. O mangá fala de otaku para otaku. Quem é de fora pode entender o que está sendo contado ali, mas não vai sentir essa irmandade um tanto quanto esquisita. O que não chega a ser um problema, é só um detalhe de experiencia mesmo. 














Algumas pessoas dizem que Genshiken embeleza o comportamento otaku, porém, eu penso justamente o contrário. Quanto mais eu lia, mais eu sentia repulsa. Eu disse anteriormente que o slice of life prejudica um pouco a história em si, já que cada capítulo não apresenta nada objetivamente novo, no entanto, eu senti que alguns momentos essa característica de narrativa reverenciava os personagens. E não o enredo propriamente dito. O enquadramento de cena também é uma coisa que ajudou a criar uma linha de realidade para o mangá, pois foi como se o autor estivesse me incluindo ali na cena com eles. Também adoro os traços do mangá, bem como o designer dos personagens e cenários, porque senti muita verossimilhança, ao mesmo tempo que ele é simples, ele também era cuidadoso com detalhes. Pra mim, a arte não foi nenhum problema.

Ainda seguindo a linha de raciocínio anterior, Genshiken não me chocou com acontecimento mirabolantes, cheios de engenhosidade, mas sim com a realidade que estava me sendo passada, com os diálogos de indagações que às vezes uns personagens tinham. Quando eu estava já de saco cheio daquela rotina, com aqueles balões recheado de falas simples, me sentindo desconfortável com alguma coisa, surgia então de repente uma frase de reflexão que automaticamente me despertava ali. Renascia um interesse. Uma luz em meio à escuridão. Foi como um combustível. Era isso que me entretinha. 

Por fim, considero Genshiken uma obra mediana. Ele pode ter essas características positivas que citei acima, mas ele também tem seu lado amargo. Assim como tudo na vida tem o seu lado bom e ruim, Genshiken mostra o sal e o açúcar de um estilo de vida de forma natural. Os capítulos que se seguem não me trazem algo novo em história, ela só vai me mostrando a mesma prática doentia por diversos ângulos, porém, os personagens crescem ao longo do percurso. Praticamente todos evoluem (apenas um personagem que não) e eu considero isso um ponto positivo. Afinal, estamos vivendo um processo de mudança; o que eu sou hoje, talvez eu não seja mais amanhã. Não no sentido brusco da palavra, mas sim no sentido gradativo, de que algo me será acrescentado aos poucos. E quando isso não acontece, Genshiken também mostra através de um personagem a consequência disso. De que o prazer da vida estará só na imaginação e não na prática. E isso é extremamente triste, e perturbador.

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