Duas ou três coisas que sei sobre o cinema japonês: A Ilha Nua


Retomando a coluna ''Cinema Oriental''.

Existem certos filmes, que mesmo com o passar do tempo, ainda guardam dentro de si, o poder, a magia, a comoção, e a espontaneidade com que foi realizado. O cinema é com toda a certeza, a maior caixinha de surpresas habitado na humanidade. Muitas das respostas, para muitas das coisas que você gostaria de perguntar, mais não sabia as palavras que usar, estão para serem ouvidas e vivenciadas com os olhos atentos no universo cinematográfico.

O filme que quero falar hoje, e que representa muito bem o deslumbramento com que usei as palavras anteriormente, se chama: A ilha nua, de 1960,  dirigido e roteirizado por Kaneto Shindo. Trata-se de uma daquelas pérolas do cinema Japonês, uma obra-prima de tão bela, e de tão emocionante, - no sentido mais puro da palavra -  que chama-la de obra prima ainda seria pouco.

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Numa ilha a oeste do Japão, uma família vive tranquilamente e sozinha, apesar da dificuldade do dia-a-dia, até que acontece um infortúnio que faz com que tudo mude de forma drástica para aquele casal e seus dois filhos.
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Através de nenhum diálogo, apenas imagens e sons do cotidiano, o filme começa com uma mulher voltando de canoa para a ilha isolada onde ela mora com seu marido, e seus dois filhos. Neste trajeto, ela trás um balde cheio de água que utiliza para sua sobrevivência diária, como por exemplo, na higienização, e no ato de molhar o solo para que ele dê frutos. O que para muitos, isso que eu escrevi não tenha nada a dizer, sendo algo banal, para o cineasta Kaneto Shindo significa o oposto. Através desta singela narrativa, ele conseguiu transmitir toda a beleza que uma vida comum tem, mais que todos nós não enxergamos. O filme todo retrata a bravura desta mãe incansável, carregando baldes de água pesados nas costas, numa concentração absurda, e sem em nenhum momento reclamar de dor, ou dar a aparência de desistência pelo cansaço. Essa vida aparentemente tediosa para nós, aqui é transmitido através de uma aura hipnótica, - realçada com uma trilha sonora fabulosa - que fica impossível desgrudar os olhos da tela por um segundo sequer. Em vários momentos da película me vi com os olhos levemente marejados de água, pelo simples fato de perceber que o mundo em si, é a maior poesia criada pelo homem. O som do vento, da água, a felicidade de uma criança depois de pescar um peixe, a alegria de um pai orgulhoso de seu filho, o movimento lento das nuvens no céu, e centenas de outras coisas que pouco damos importância, são na verdade a maior beleza que teremos contato em nossa curta existência.


Do pouco que conheço do cinema Japonês, assumo que me vislumbrei por quase tudo que vi neles. Desde os renomados filmes dos cineasta Akira Kurosawa e Yasuhiro Ozo, até os trash´s filmes de horror de baixo orçamente, tudo que os nipônicos colocam a mão, é feito com uma criatividade única. No caso de A ilha Nua, eis um filme incomparável, e que merece ser reverenciado por todos que vem o cinema como uma expressão artística. Nada de cortes rápidos, diálogos enfeitados, e personagens caricatos. Aqui é tudo natural, a vida nua, a poesia cinematográfica em seu estado mais belo.

















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