''Um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas um sonho que se sonha junto é realidade''.
Tem algo em Haikyuu que prezo com todas as minhas forças: o fato de que a série precisa me deixar participar dos eventos ocorridos. De alguma forma, eu preciso estar interligada com os acontecimentos e com os personagens. E isso pode acontecer de várias formas. Uma delas, é exercer o carisma nos personagens em destaque. Outra, é contar o que os move, e o que desejam. É trabalhar cada ponto com honestidade, zelando o máximo a coerência e o discernimento de todo o universo que os cerca. Não importa a artimanha que a série use para estabelecer um laço de intimidade, algo precisa chamar minha atenção. Em algum aspecto, preciso me ver ali. Junto com eles, presenciando seus dramas. Enfim, o que resume esse sentimento seria; imersão. Sem ela, não consigo ter uma experiência prazerosa.
Mas, o que um anime de esporte tem a me oferecer? Eu não acho graça em vôlei, alias, nenhum anime desse gênero faz minha cabeça. Então, que diabos Haikyuu tem que me fascina? Pois eu te digo que foi o próprio esporte. Sim, é isso mesmo. Aquilo que serviria para eu odiar, serviu para eu amá-la. Isso porquê, a forma como Haikyuu lida com isso não é de uma forma desinteressante. Existem muitos aspectos envolvidos nela, que de certa forma, criou-se um vínculo de intimidade comigo. Mesmo eu não gostando de vôlei, ou de qualquer outro esporte em anime. Haikyuu sabe trabalhar o até então banal motor da história, de um jeito que me fez ficar vidrada com cada episódio. E ainda dizem, que o mangá é melhor, você acredita nisso?
O ''protagonista'' dessa série, é esse moleque de cabelos alaranjados como pode ver na imagem acima. Se trata de uma versão parecida com o Ichigo de Bleach? Com certeza - Se falarmos da cor do cabelo, é claro (pq pfvr né?). Se formos falar de personalidade, eu diria que é mais parecida com a do Luffy de One Piece. Não se trata uma cópia descarada de trejeitos e tudo mais, no entanto, toda o jeito construída nele, lembram muito o jeito autêntico do Luffy - o que não é, de maneira nenhuma, uma crítica negativa. Pois bem. Agora que você já tem em mente uma das estrelas da trama, imagine esse moleque - que por sinal é chamado de Shoyo Hinata - ficando dependente de um cara, que eu diria que é o oposto de sua personalidade, para poder conseguir se destacar juntamente com sua equipe de vôlei? Então ... é justamente isso que acontece. Shoyo Hinata terá que conviver diariamente com esse garoto de sua escola (que se chama Kageyama) se quiser transformar a equipe fracassada de sua escola, na mais bem sucedida. Esses dois personagens, Hinata e Kageyama, tem lá suas qualidades, mas também possuem seus pontos fracos, e juntos, irão se completar dentro dos demais colegas de time, para assim ser, grandes amigos através do esporte, que nada mais é do que o vôlei.
Este é o plot básicão. Espero que tenha compreendido, sou péssima com sinopses. Mas vamos lá aos detalhes técnicos agora. Haikyuu vem do mangá de Haruichi Furudate, ao qual é publicado na Shueisha com 20 volumes, para o público-alvo Shonen, desde 2012 e se encontra em publicação no Japão até agora. A adaptação em anime veio pelo estúdio Production I.G, com a direção de Susumu Mitsunaka e roteiros de Taku Kishimoto. As duas temporadas têm 25 episódios. Existe uma previsão para uma terceira temporada para outubro desse ano, que irá adaptar o jogo gigantesco (clica aqui para ler a notícia).
Dito tudo isso, vamos ao que interessa. Haikyuu é daora mesmo? É isso que você irá descobrir agora, no Globo Repórter .. érrr, digo,digo, Nave Bebop :)
Eu gosto como duas personalidades distintas se chocam. E gosto ainda mais, quando os ideias se encontram. Haikyuu tem muito disto, de misturar o melhor e o pior de cada um (usando o vôlei como recurso) para uma única finalidade: a de ser o melhor time. Essa série foca muito no esporte, mostra passo à passo de como tudo funciona - o que chega a ser bem maçante em alguns episódios da primeira temporada. Mas em compensação, ele também mostra o ponto fraco dos personagens tanto dentro do jogo como fora dele. Basta olhar os protagonistas Hinata e Kageyama para perceber isso, eles são o reflexo principal do grupo. E tudo se move, com a interferência um do outro ali na quadra. A partir desse pensamento, Haikyuu constrói sua jornada com erros e acertos, porém, com resultado grandioso.
Outra coisa pra se destacar é o fato de que o anime é bem pé no chão (Não é nenhum pouco parecido com Kuroko no Basket por exemplo na questão de irrealidade no esporte). Mas assim como no vôlei, existem as necessidades de pular para acertar a bola em cheio. Nada são flores, os jogadores terão que suar muito suas camisas para conseguirem o que querem ali. Tanto para reconhecer suas falhas e adquirir novas táticas, como também no relacionamento com o parceiro de time, afinal, é um fator que exige confiança. O mais bacana de tudo, é como os produtores optaram em transparecer isso para a animação, balanceando sempre (na medida do possível) esses dois lados da moeda num mesmo episódio. Para mim, o momento de triunfo da série, é quando eles conseguiam unir tudo isso numa tacada só. Ou o melhor dizendo, numa sacada única (lá vem eu de novo com esses trocadilhos,êlaiá).
O time de vôlei é uma orquestra - Como diria o treinador brasileiro Bernardinho * que inclusive foi citado num episódio do anime*. Um depende do colega ao lado pra alcançar a plenitude, assim como em sociedade. Haikyuu mostra isso bem, ao mostrar suas derrotas, e ao mesmo tempo, suas convicções em conquistar cada vez mais vitórias. Com isso, podemos assistir o início de uma pequena comunidade se erguendo, se desconstruindo, e se renascendo muitas vezes, desde dentro de uma única partida até num simples treino com os amigos. Vibramos com cada minuscula aquisição,e sofremos também com cada equívoco. Tudo é constante sentimento. Alma. Rotação.
Por mais que a segunda temporada não seja tão boa quanto a primeira - afinal lá se sente um pouco mais de garra e precisão - não deixa de ser ótima de toda forma. Os personagens secundários ganham mais vida e espaço, realçando o fato de que não existe protagonismo em Haikyuu. Não é uma história exclusivamente sobre o Hinata ou sobre o Kageyama, ou sobre o vôlei. Mas é uma junção de todos eles. Cada um possui seu estrelato, contribuindo com um pequeno pedaço na trama, para assim ao término, se tornar em algo grande. Repito: assim como na sociedade. Cada um é o ''protagonista'' e o ''vilão'' de sua própria história. Claro que o Hinata é sim, o personagem que dá o pontapé inicial, mas isso não faz dele o melhor e o principal personagem em questão. Ele fornece sim grande combustível, mas o motorista nem sempre será ele. Temos então, uma verdadeira orquestra, até porque o concerto não se faz sozinho.
Falando agora dos aspectos técnicos, eu não poderia estar mais satisfeita. A série possui um visual bastante bonito, tudo está devidamente bem feito. A trilha sonora vai além da média e entrega um trabalho mega competente. Claro que isso não se repete 100% em todos os episódios lançados, mas no geral, considero um resultado alto. Todos os envolvidos tem a minha sincera gratidão e reconhecimento.
Pra resumo da ópera: na hora em que você se ver nos personagens, talvez não como forma de identificação, mas como forma de entendê-los, é porque você foi capturado pelo espírito de absorção. Se sinta privilegiado, porque às vezes é escasso ser abduzido de forma sincera e natural num anime como este. Embora não seja tão difícil com personagens tão carismáticos e reais.
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