A Maldição de Kazuo Umezu (1990)











Pegue duas histórias curtas de horror de um dos mangakás mais influentes do Japão (no caso, Kazuo Umezu) e transforme em um anime com baixo orçamento. Será que a atmosfera amedrontadora da história consegue permanecer na animação igualmente?

Quando os recursos são escassos, é necessário dar uns pulos pra compensar a falta dele. O que esse OVA faz é justamente isso. Nitidamente se percebe a simplicidade da animação, no entanto, logo dá pra sentir o quanto o uso de outros elementos se faz eficiente. Como por exemplo as expressões faciais das personagens, a trilha sonora, a equipe de dubladores. Tudo isso foram características chaves para trazer a veracidade do horror para perto.

Eu acho que você já deve saber, mas não custa reforçar aqui o que todos já sabem: Kazuo Umezu é o cara! Além de músico e ator, teve seu primeiro mangá publicado enquanto ainda estava no colegial, fazendo sua carreira logo após a formatura. Se mudou para Tóquio em 1962, e desenvolveu seu estilo mais a profundado no horror, intercalando às vezes com ficção-científica e humor. Já teve seu talento reconhecido pelo 20º Prêmio Shogakukan Manga em 1975 com a obra The Drifting Classroom (漂流教室 Hyōryū Kyōshitsu).

Pra quem gosta do horror clássico, os mangás de Kazuo Umezu são vistos com total relevância - e não é pra menos. Umezu sabe explorar o psicológico dos seus personagens mais do que ninguém, além de ressaltar os seus medos primitivos com total louvor. Eu o conheci com o mangá Watashi wa Shingo (1982) e desde então não parei mais. Umezu soube provar que domina os gêneros por ele adotados, além de servir como referencia dentro de seu estilo (Junji Ito que o diga).


Nessas duas histórias contadas no OVA em questão, podemos perceber o quanto Kazuo Umezu salienta o sobrenatural, visando o imaginário. Na primeira leva, temos uma jovem que começa a se sentir estranha após a chegada de uma nova aluna em sua casa. Na segunda, temos um grupo de amigas que se aventura numa casa abandonada na tentativa de desafiar os seus medos. Entre a primeira e a segunda opção, é óbvio que a segunda faz mais o estilo do horror clássico, porém, na primeira se vê um apelo psicológico mais forte ao meu ver.

O que se pode tirar de conclusão das duas, é que ambas são chocantes. Talvez não pela simplicidade do pontapé inicial, mas pela maneira como elas terminam. Que pra mim, é bem mais perturbador do que o sangue, fantasma, ou o monstro em ação - apesar que, esses elementos estão inseridos de forma atemporal e surpreendentes. Não é um medo que fez efeito apenas nos anos 90, mas ainda hoje, se faz presente, por estar interligada no desconhecido. E isso, é algo que está arraigado em nosso instinto primitivo. É um medo que é impossível de se evitar. Dito isto, defino que ''A Maldição de Kazuo Umezu'' não envelheceu nem um pouco.

Nessa hora, eu confesso que me caguei 

Pode ser que a arte cause mais espanto em alguns do que o próprio horror propriamente dito, entretanto, tente não ligar tanto pra isso. Caso contrário, você perderá de assistir uma boa história por pura bobagem. O mesmo digo, para os mangás do Umezu. Não há porquê se sentir incomodado com o designer dos personagens por exemplo, só porque você não está habituado em acompanhar tramas com personagens retratados dessa maneira. Garanto, que essa barreira irá se dissipar ao ver com os próprios olhos o quanto a arte é foda, ao desmanchar a ingenuidade de suas personagens estampada em seus rostos, por uma incrivelmente assombrosa. Sério, as expressões faciais, são um grande show aparte. Dou destaque principalmente para a primeira história neste OVA nesse quesito. Só de olhar para a cara de desespero da guria, dá pra sentir o sentimento aterrador que estava sentindo, digo o mesmo dos demais secundários que não ficam de fora. E já que a animação não é a das melhores, o gritos das dubladores estão sensacionais por sua vez, e os mais reais possíveis, é de arrepiar os pelinhos do braço. Enfim, resumindo a ópera, o ditado ''quem não tem cão, caça com gato'' se faz bem notório na estratégia em que os produtores adotaram em recontar dois contos sublimes de Kazuo Umezu.
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