Criado pela mangaká Hiromu Arakawa, Fullmetal Alchemist
alcançou enorme sucesso não somente no Japão, mas em todo o mundo, sendo
inclusive – na minha não tão humilde opinião – uma das melhores obras já
feitas, por sua complexidade, profundidade, comédia e drama, trabalhados com
primazia em um ambiente tão adverso à realidade, mas ao mesmo tempo tão próximo dela.
Olha essa linda demonstração de afinidade e amor entre Hughes e Gracia. |
Para os que ainda não conhecem a história, podem começar assistindo
os 64 episódios e/ou lendo os 27 volumes do mangá. Ou então, se contentar com
meu pequeno e tosco resumo que começa logo após este ponto final.
Os irmãos Edward e Alphonse Elric partem em uma busca
incerta atrás da pedra filosofal para tentar recuperar seus corpos. Consequência de terem quebreado o tabu da alquimia, ao realizarem a alquimia humana tentando reviver
sua mãe. Alphonse perdeu seu corpo todo, teve a alma fixada por seu irmão em
uma enorme armadura e agora vive todos os dias de sua vida sem sentir fome,
sede, sono ou qualquer outra sensação humana. Enquanto o seu irmão mais velho
Edward, que perdeu uma perna e um braço, agora vive com a angústia e o fardo de
ser o culpado pela desgraça de seu irmão.
O filme começa acertando, e acertando muito bem. A
caracterização e figurino dos personagens é praticamente perfeita. Quase todos
eles são facilmente identificados por qualquer fã ao primeiro olhar – com
exceção da Winry que inexplicavelmente é a única que não tem o cabelo da cor
original. É digna de uma menção a caracterização de Maes Hughes, protagonizado
por Ryuta Sato, por sua marcante participação na trama original. O cenário
também não deixou nada a desejar, já que o vilarejo de Volterra na Itália é a
personificação do ambiente original.
Esse Al ficou lindo demais! |
Ao contrário do que muito se falou, o CGI não foi decepcionante – apesar de que em alguns momentos poderia ter sido melhor. A armadura de Alphonse estava simplesmente linda, desde os seus movimentos até a sua interação com os personagens humanos em cena. Em uma realidade onde coisas se materializam e cenários são destruídos por quimeras de pedra, até que ficou muito bom. Vale ressaltar a cena, logo no início, quando eles fazem a transmutação humana e também a idealização do “ser branco” que guarda A Porta.
A atuação dos personagens é caricata, do jeito que já
estamos acostumados com a atuação oriental. O que não é ruim. Aliás, me agrada
bastante. Sem medo de reproduzir os bordões e trejeitos do mangá/anime.
Particularmente, achei o Gluttony simplesmente demais – até quando ele se
transforma e sai correndo todo desajeitado atrás das pessoas – e agradeci por
terem usado um ator ao invés de um CGI. Porém, o Envy parecia incompleto e
deslocado o filme todo, como se estivesse ali apenas para cumprir uma cota de
personagens.
Não custava nada terem colocado aquele barulho característico que faz toda vez que o Edward junta as mãos, né? |
Aliás, o filme desaponta ao eliminar tantos personagens
interessantes e importantes, utilizando de alguns como uma muleta para as ações
que deveriam ser de outros. Entretanto, isso já era esperado, levando em conta
de que eles tinham um pouco mais de duas horas para avançar o máximo possível.
Mas confesso que ao fim, isso não me incomodou tanto.
O que me incomodou foi a falta de profundidade em tudo.
Desde o início não fica claro qual o rumo ou gênero eles vão seguir, levando em
consideração que era possível mais de uma abordagem. Somos apresentados a
vislumbres de cenas trágicas sem base alguma de drama, como se forçassem você a
ter uma emoção, sem entender o motivo de sentir aquilo. Os que já assistiram e
amam a obra, facilmente conseguem se emocionar em alguns pontos, mas isso se
deve a bagagem emocional que já carregam, enquanto que uma pessoa que está
vendo pela primeira vez não consegue derramar uma lágrima sequer mesmo NAQUELA PARTE!!! – que não deve ser
nomeada.
Não há fortes vínculos entre os personagens! Simplesmente
não há. O único vínculo trabalhado, de forma bem rasa, é o dos irmãos Elric e
da Winry. Eles simplesmente esquecem de que os dramas secundários são o motivo
de que tanta gente acabou se apaixonando e sofrendo a cada cena enquanto
assistia ou lia. É tão parte da identidade quanto o figurino e os efeitos
especiais. Me doeu o coração ver o coronel Hughes e o Mustang conversando como
se fossem colegas sem a menor afinidade, como se estivessem se falando pela
primeira vez na vida.
Tem certeza que esses dois se conhecem? |
O conceito da alquimia também foi negligenciado. O
explicaram rapidamente como se o único motivo de o terem feito, fosse para
explicar porque diabos havia tantas coisas sendo destruídas e surgindo do nada
em incontáveis momentos. Não houve profundidade nos mistérios, na simbologia e
nem no ocultismo.
Talvez, a parte mais decepcionante não sejam os furos no
roteiro, ou a ausência de personagens, mas sim a falta de foco. Tanto em
definir para qual público o filme foi feito, ou se predominaria o drama, a
comédia, a aventura ou os três.
Mas confesso que fui surpreendido. Pois, surgiu a esperança –
em uma cena pós créditos, por isso não deixem de avançar até o fim – de uma
continuação. A esperança de ver muito mais daquele universo que eu tanto li e
assisti. Que eu tanto imaginei. Não dá para dizer que a essência de Fullmetal
Alchemist foi colocada de lado, pois, mesmo sendo esquecida em alguns pontos,
predomina na maioria dos detalhes servindo de deleite aos olhos de quem já
conhece.
No fim, eu senti uma mistura de comoção e esperança. Talvez
porque eu tenha uma enorme paixão pela obra e seja emotivo e esperançoso demais
com o que eu gosto. Ou talvez porque eu tenha entendido e aceitado que não há
tanto sentido em criticar e comparar adaptações com as obras originais. É sensacional
ver o que você ama ganhar vida. Mas a obra original nunca vai ser atingida. Ela
vai permanecer lá no seu lugar alcançado por direito, aguardando aqueles que
querem ter uma experiência única e mágica, e, portanto, se uma representação em uma plataforma de fácil acesso puder instigar isso, então ela já cumpriu o seu
dever.
E vem mais por ai! |
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