Rurouni Kenshin: A Saga Kyoto Prova Que Ainda Existe Esperança Para as Adaptações em Live Action



Meu bem, haja fôlego.


A continuação da adaptação live action do Rurouni Kenshin para as telonas, contou ano passado com dois filmes de um pouquinho mais de duas horas: O Kyoto Inferno e The Legends Ends. O primeiro filme já havia sido um sucesso de público no Japão, e inclusive já comentei sobre a qualidade dele aqui no blog, caso não tenha lido clica aqui. Se você não assistiu o filme, recomendo que leia o meu primeiro post, pra entender melhor de como é a história, quais as diferenças do mangá/anime para com o filme, e do porque você deve perder o preconceito com live actions e dar uma chance para Rurouni Kenshin. 

Por isso, não recomendo que você leia esse post sem ter assistido o filme porque vai ta cheio de spoilers. Não vou explicar quem é Kenshin, Shishio e nem sobre aquele universo, uma vez que já fiz isso quando falei do primeiro filme. Se não sabe do que estou falando leia lá, se sabe continue aqui. Então ta avisado. Primeiro vou comentar Kyoto Inferno e em seguida The Legends Ends. É isso aí, sem mais explicações, vou direto ao que interessa. U.U


Kyoto Inferno

Tinha dito ano passado que a adaptação tinha acertado mais ou menos o caminho para um filme ''orgasmático''. Pois bem. Se tem uma coisa que eu deveria elogiar como uma espécie de prioridade aqui, é o carinho e respeito em que os produtores do filme tiveram com a série original. Era isso que faltava nos live action da vida. Poderia citar muitos que fracassaram e pisaram nos sentimentos dos fãs como se fossemos carrapatos.

Kyoto Inferno não perde tempo, e já começa num ritmo tenso, escuro e sombrio. Mostra de cara pra que veio. E o que está acontecendo, o que querem e o porquê. Bom, não era pra menos, já que no primeiro filme percebemos uma história sem nenhuma ameaça real para Kenshin, o que não significa uma coisa ruim, já que serviu mais como introdução, tanto para quem conhecia o mangá/anime, tanto pra quem não sabia nem o que era ''Era Meiji''. Gostei muito do clima inicial, mostrando o vilão Shishio em meio às chamas; para quem já conhece a história foi uma cena pra qualquer coração bater mais forte, agora, pra quem não leu ou assistiu nada sobre Rurouni Kenshin, acredito que aquelas cenas foram sem peso algum. Claro, dá pra entender que se trata de um grande vilão, tudo leva a crer que sim. As pequenas lutas iniciais, até a primeira aparição dele, em volta das chamas, com pessoas caindo do alto até o fogo, sendo queimadas ainda vivas, a oração dos seus subordinados ali presentes, mais a caracterização dos seus espadachins aliados enfrentando Hajime Saito, cria uma atmosfera inicial muito marcante, forte, chocante, atitudes de um verdadeiro vilão. Tudo na cena é muito lindo, mas é sem peso, tudo o que temos de consiste naquela cena são os diálogos dos dois nas chamas. Percebemos grande rivalidade, mas nada além disso. Digo e repito: pra quem conhece a saga, foi sem dúvidas uma puta cena, pois conhecemos bem os dois lados, agora pra quem não conhece foi tudo lindo visualmente, nada mais que isso. É mais pra frente que a história do Shishio é contada. E isso não é uma coisa ruim. Pois vem na mente uma ressaca da cena inicial e tudo faz mais sentido. Aquela lembrança ganha mais peso. Perceba que aquele que conhece a saga e aquele que não, o efeito surgido em ambos é o mesmo, porém em contextos diferentes. É nessas horas que o diretor Keishi Otomo merece uma salva de palmas, meus queridos.


Logo depois, vemos Kenshin, o ex retaliador, assistindo uma peça de teatro com seus amigos, aos sorrisos, num ambiente agradável, se divertindo. Momentos estes, que tomariam outros rumos logo depois que os guardas convidam Kenshin a enfrentar Shishio em prol daquela sociedade. E é aí que a história de Shishio é contada. A porradaria das espadas começa, mortes e sangue de todos os lados, mostrada de maneira rápida e concisa. Shishio sendo traído pelos seus comparças foi de uma crueldade tremenda, tudo levando à crer o nascimento de um  grande vilão. Os cortes de foco, mostrando a aparente morte trágica de Shishio, com o Kenshin sendo convidado pelos guardas para enfrentá-lo, foi um paralelo muito dinâmico, de momentos claros à escuros. O tom amarelo naquele gabinete em que o Kenshin estava, representava o estado de espírito dele. No mesmo momento a cena era cortada, num ambiente frio e desesperador em que Shishio agonizava a dor da traição, sentindo sua pele se derretendo, até a neve salvá-lo das chamas. Momento propício pra levantar o herói e o vilão na trama. O bem e o mal. Mesmo que de fato não haja provas e peso o suficiente pra pesar na balança os dois lados, no entanto, ao longo do filme os dois personagens ganham força, pois suas personalidades aos poucos vão sendo exploradas e evoluídas. Até chegar ao final, onde os dois lados já estão em total peso e relevância, deixando uma ponta boa para o grande confronto.
    
Um pouco mais pra frente, quase cai na gargalhada quando o Sojiro Seta - aliado do Shishio - vai entrando de repente na carroça em que o ministro está, com um sorriso amigável , perguntando naturalmente ''como está?''. Depois de dar sua mensagem, dá mais um sorrisinho antes de passar a espada no pescoço do ministro. Este ator que interpreta o Sojiro, Ryunosuke Kamiki, é excelente em todas as suas performances de atuação, eu realmente senti um medo do seu olhar calmo, que escondia múltiplas facetas, revelando aos poucos uma personalidade perturbada. É certo afirmar que ele é um dos melhores atores do filme. O que eu não gostei dessa parte, foi o fato de que o ministro estava completamente desprovido de segurança, não havia sequer um guarda junto com ele na carroça, a não ser o paspalho que estava controlando, que alias nem sequer percebe o ato.

Não vou nem comentar o ato seguinte, porque confirma o que eu disse em relação o ministro estar desprotegido de segurança. Seria uma morte mais interessante se não houvesse esse detalhe, o que me anima foi a participação do Sojiro nessa dança, de resto foi bem méh - se for pra pensar nos detalhes e na forçação de barra.


E falando em forçação de barra, poderia citar mais algumas situações em que achei desnecessárias, como se fosse uma espécie de empurrão para as coisas de encaixarem, como a hora em que o Kenshin olha as mães e crianças chorando a morte de seus entes queridos, que são os oficiais mortos, o momento em que o Sanosuke apanha feio de um dos capangas de Shishio, são algumas das situações que você olha e diz ''olha só como o Shishio é mal, tomara que o Kenshin acabe com ele''. Aí, ele perde um pouco do peso, porque esses conflitos são realizados por nada mais e nada menos que pelos os seus capangas e não tem um que foi por ele mesmo, tirando o final em que ele sequestra a Kaoru de forma totalmente aleatória, e por que não dizer; forçada. Que alias, na realidade nem foi por ele, foi pelo Sojiro. De resto, você pensa o quanto a maldade em que há no Shishio é grande, mas não o suficiente pra ele mesmo ir fazer, ou pelo menos, demonstrar algumas de suas atrocidades com suas próprias mãos. O filme tenta nos convencer de que ele é um dos retalhadores mais fodas, somente com aquele momento de flashback, em que matava vários sozinho, sendo que no momento presente ele não mata um sem a ajuda de alguém. Pra um vilão, soa meio contraditório. Mesmo assim, ainda não tiro o mérito de seu personagem, sua arrogância é aquilo que mantém as máscaras de pé, e Shishio consegue sua fama de mal na linha do ''custe o que custar''. Se não for com suas atitudes, você vai passar a admirá-lo pelo menos por causa de suas palavras. Como a da imagem abaixo, que na minha opinião, é o melhor diálogo desse filme.   

Um outro ponto que me chamou a atenção foi a ambientação dos acontecimentos. Certamente, está ainda melhor do que no primeiro. Em cada lugar em que Kenshin passava, há um toque de perfeição nos cenários. De maneira totalmente convincente, estamos imersos naquela época de forma verdadeira e bonita. O traje dos personagens também está construída muito detalhadamente, somente a roupa do Shishio está estranha, mas não acredito que seja algo que chega à me incomodar. Os personagens secundários também receberam instruções bastante detalhadas do diretor, senti que os atores estavam mais entrosados uns com os outros, havia mais dinâmica, olhares mais próximos da realidade, falas com entonação muito mais convincente. Kaoru e Yahiko tiveram seus papéis na linha do padrão, sem grandes prioridades e glamour na história, já o Sanosuke está ainda mais despojado como sempre, cativante em todas as suas participações, a única reclamação fica por conta da direção do Hajime Saito, em que optou em traçar um rumo um pouco diferente para o desfecho dele neste filme, enquanto Kaoru e Yahiko ajudavam na luta, Sanosuke some da história repentinamente e demora muito a aparecer, já tava até desistindo dele e quando aparece não fica muito perto de Kenshin e nem teve uma participação mais merecida ao todo. 

Os confrontos de espadas também é um ponto à se elogiar, dentre todas elas, a minha preferida é sem dúvida aquele que teve com o Sojiro um momento depois de confrontar com palavras o Shishio no meio do filme, sem necessidade. Mas enfim. Dali surgiu um excelente confronto, por mais que a luta com o cara do cabelo loiro arrepiado (sim, esqueci o nome) tenha sido mais intensa e problemática. As cenas finais no navio foram um desvio da trama original, porém foram executadas certinha , como tinha de ser. Assim como no primeiro, Kenshin é visto como o herói, aqui termina da mesma forma, saltando no mar para tentar salvar a vida de Kaoru. Foi uma boa escolha do diretor em terminar assim, acho que é uma boa ponta solta para continuar no próximo, sem ser já de cara no ''vamo vê'' de confrontos. 

Resumindo: The Kyoto Inferno consegue agradar tanto os fãs como aqueles que não são. Há um dinamismo muito grande, e embora, haja pequenas imperfeições, foi sem dúvida, uma boa adaptação para ambos os públicos. E é mais ou menos isso que espero de uma live action. Continuou mantendo o nível do primeiro, e soube despertar em mim uma empolgação não antes vista. 


























The Legends Ends

Eu tinha dito que achei o fim do Kyoto Inferno muito bom, e que ainda havia deixado uma boa ponta solta para o próximo filme. Pois bem. The Legends Ends não soube aproveitar as ótimas brechas e simplesmente toma o nosso tempo com muitas situações forçadas e desnecessárias. Começando com a ótima coincidência do Kenshin ser salvo pelo seu Mestre - que inclusive está praticamente com a mesma cara de quando mostra ele falando com Kenshin pela primeira vez quando criança, ou seja, o cara não envelheceu nada. E ainda tem um péssimo rendimento na história, uma vez que sua função ali é treinar Kenshin para finalmente derrotar Shishio, sua participação é bem bonita na questão de provocar a espiritualidade no Kenshin, e estimulá-lo em aprender a técnica suprema. Só que a realidade é outra. O diretor optou em fazer o filme perder tempo com coisas desnecessárias, como a babogeira do Aoshi por exemplo - que não fede e nem cheira na história - do que em mostrar um treinamento mais profundo do Kenshin, aprendendo a técnica suprema, que alias só poderia aprender, segundo o próprio Mestre, se arrisca-se sua vida. Ou seja, ele estava arriscando a vida dele também em ensinar ao Kenshin, se é uma técnica tão poderosa assim. No fim das contas, a cena é cortada, mostrando a Kaoru se recuperando no hospital, que alias, foi um outro momento equivocado do filme, já já comento mais sobre essa parte.  
Enfim, não vemos Kenshin aprendendo na raça a técnica, que no final da soma, nem foi tão decisiva, já que Kenshin derrota Shishio com a ajuda de mais três. Fora o fato de que o mestre Hiko Seijuro nem vai lá ajudá-lo na luta. As coisas seriam muito mais produtivas se ele tivesse morrido treinando o Kenshin, ou se então tivesse pelo menos sido comparsa dele na luta contra o império do Shishi. Pena ...


Kaoru foi uma personagem muito mais fraca nesse filme, do que nos outros dois. Não consigo engolir a ideia de que ela caí em alto mar, e acorda de boa num hospital próximo. Ela está apenas como vítima ali, somente fazendo o papel da mocinha indefesa. Papel bem estranho para uma professora do dojo de samurais. Sanosuke é outro que está perdido no filme, e parece que não sabe o seu papel ali. Apanha mais do que o Kenshin no final, fica banhado em sangue, e depois que o Kenshin consegue derrotar Shishio, é ele que tem que carregar o Kenshin para fora do navio que está explodindo de maneira bem idiota. Tirando o fato de que enquanto Kenshin treina na floresta, Sanosuke ta no dojo com o Yahiko fazendo nada, esperando o Japão explodir, aparentemente conformado com o sumiço de Kaoru e Kenshin, ao invés de estar procurando por eles ou estar treinando técnicas de luta. 

Mas não é só de mal aproveitamento de personagens que The Legends Ends possui. Existem ''muitos'' momentos de acertos no filme, como por exemplo todas as cenas de ação, que estão absurdamente bem ensaiadas. Não há o que se reclamar nesse quesito. Muito pelo contrário. Há muito o que se elogiar. A ambientação dos acontecimentos também continua impecável na fiel retratação daqueles tempos, e o melhor de tudo, sem dúvida, foi o navio FODAPACARAI do Shishio. Sem comentários.  

Gosto também da cena em que o Kenshin vai ser supostamente executado na beira da praia, mesmo tudo aquilo soando meramente clichê.  Existem detalhezinhos bem sem sentido ali, como a Kaoru correndo igual barata tonta com o Yahiko no meio das explosões e lutas de espadas gritando pelo Kenshin, sem estar sendo protegida por ninguém, ou ao menos lutando por si própria. Sanosuke falando aos risos pro Kenshin ''nossa, achei mesmo que você ia morrer''. Além de que, todo aquele showzinho ser uma cena intensamente sem relevância, porque afinal de contas, sabemos que ele não morreria daquela maneira, sem ao menos ter deixado um final feliz pra Kaoru e sociedade. Mas como se trata de uma cena que antecede algo maior vindo, o clima de urgência fica nitidamente claro e contagioso, sendo assim facilmente digerido pelo público que quer ver tripas rolarem logo. Como eu queria.  

Eu no lugar do Sato Takeru não conseguiria manter a mesma seriedade na vida depois de ficar encarando essa senhor AEHAUHEUHEAUHEUHEAUHEAU 

O grande confronto no navio, é um deleite para os olhos de qualquer fã, e também para o não fã, que está assistindo por mera curiosidade. Mesmo à base de trancos e barrancos na hora de construir as ideias e informações dos dois lados da moeda, acho que Rurouni Kenshin teve sim um fechamento digno. Eu diria que The Legends Ends vale só pelas coreografias do momento final. Aquela cena carrega sozinha o filme inteiro no cangote na categoria 'diversão na certa'. É um tiro certeiro, altamente positivo. A luta tão esperada com o Shishio é bem sacada tendo a participação de mais três personagens, mesmo que isso tire um pouco o mérito do grande herói Kenshin. Gostei e assistiria de novo, de novo e de novo.       

Como eu disse no título da postagem, a saga Kyoto prova que existe esperança para as adaptações em live action. Rurouni Kenshin soube ser um filme autônomo bom e ao mesmo tempo fazer jus à fama da obra original. É mediano em muitos aspectos de profundidade de alguns personagens, mas o desfecho dos dois filmes são excepcionais. E isso é válido para uma live action. Ta mais que bom. 

Considerações Finais
A adaptação que o Keishi Otomo entrega era justamente aquilo que eu esperava para um filme de samurais: excelentes confrontos de espadas. Não posso reclamar de nenhum dos três filmes sobre esse ponto. Mais do que isso. Não posso reclamar da dedicação e proeza em que tiveram com a obra original. Esses são as duas principais características que me fascinaram do começo ao fim, mesmo o filme tendo seus equívocos. Rurouni Kenshin não se trata de uma adaptação perfeita, mas sim de uma busca por ela, e cada um dos três filmes possuem momentos que chegam muito próximos desse perfeccionismo. Foi um projeto que deu mais que certo, desde a caracterização da história - como os cenários, roupas, trejeitos dos personagens - até a escolha dos atores, em especial ao protagonista Takeru Satoh, que pra mim foi a melhor escolha para interpretar Kenshin. Eu poderia ficar horas e horas citando motivos pelas quais sua atuação está beirando profissionalismo, embora o terceiro filme não seja o meu favorito da triologia, acredito que é neste que ele se entrega completamente ao personagem. Mal posso esperar para ver como ele vai se sair em Bakuman, outra live action que sua participação já está confirmada. Bom, mas esse é um papo para uma outra hora. ^~^


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