Cinema Oriental - Tudo o que vi recentemente #02 [+16]

bu!

Não, não são filmes de sustinhos. O bagulho é mais psicológico - tirando o primeiro citado. Gostaria de ter comentado mais sobre eles, e também sobre outros filmes, mas foi o que deu pra ver ultimamente. Aos poucos irei compartilhando mais filmes orientais que tenho visto com vocês. Por hoje serão apenas três. Mas garanto que apenas um deles é capaz de deixar qualquer um completamente extasiado por algumas horas, vai por mim.

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Fallen Angels (1995) 

Se tem uma coisa que se destaca na filmografia do diretor tailandês Kar Wai Wong, com certeza, é a fotografia. Nesse em questão, é indiscutivelmente gritante. Cada cena é um convite para se perder em devaneios. Deve ser por isso que, muitas pessoas ao assistir esse filme, têm pequenos espasmos de distração. É um filme que nos faz pensar em coisas. Toda a sujeira mostrada é estupidamente encantadora. Seja os cenários como também seus personagens, todos eles são definidos pela palavra bagunça. Os sentimentos estão misturados, portanto, chega a ser difícil não se sentir sobrecarregado em alguns momentos. No entanto, uma boa cena de ação, bem como embalado com uma música, é capaz de nos fazer aliviar de toda a tensão exposta nos diálogos. 

Fallen Angels ou Anjos Caídos como preferir, é do mesmo diretor de Amores Expressos, filme que foi lançado um ano antes deste (já comentei sobre ele aqui) e pode se dizer, que se trata de uma continuação do mesmo. Diferente de lá onde a história se trata dos relacionamentos amorosos de dois policias, neste, o enfoque está voltado na vida de um homem desiludido, que irá se encontrar atraído pela sua parceira de trabalho, que raramente vê. Nessa dúvida constante de se envolver ou não amorosamente, ele cruzará o caminho com um homem mudo, que vive a vida assaltando lojas e fazendo-se passar pelos seus donos. Como pode perceber, não se trata da continuação da mesma história, mas sim, de um aprofundamento de pessoas igualmente tristes e duvidosos. O diretor gosta de explorar esses tipos de personagens, porém, sempre dá pra se tirar um pensamento novo sobre eles. As conversas e debates que trazem à tona, são de total acréscimo ao conteúdo de seu trabalho como um todo.


É impossível você sair o mesmo depois de assistir esse filme. Alguma coisa, com certeza, vai lhe tirar desta realidade por alguns instantes. No meu caso, o que mais me encantou foi a ambientação. Por mais que exista enfoques repetitivos de lugares, acho isso um detalhe sensacional, porque mostra o quanto os personagens ''mudam'' várias vezes. Embora, nunca saim do estado de melancolia. Os pensamentos que os rodeiam variam, girando em torno da tristeza. É um detalhe muito importante, e indiscutivelmente bonito. Os trens, as estações de metrô subterrâneo, as ruas iluminadas pelo neon, cada lugar possui seu encanto. Por mais que se trate de uma história trágica, a trilha sonora pop ajuda a suavizar os acontecimentos, de maneira sustentável.
























           Onibaba (1964)

Século 14, Japão. Esperando o filho que está na guerra, uma mulher e sua nora sobrevivem em uma aldeia através de tocaias que armam para alguns soldados, matando-os e vendendo seus pertences. Com a morte do filho, a mãe põe em prática um plano diabólico para manter a companhia de sua nora.

Onibaba na mitologia japonesa é uma espécie de mulher-demônio. Portanto, já dá pra imaginar o clima desse filme. Porém, não pense que se trata de um horror macabro, cheio de sangue do começo ao fim com cabeças rolando. Kaneto Shindo constrói uma história que explora os instintos primitivos do ser humano, como por exemplo o da sobrevivência, sem deixar de lado a sexualidade. E ainda sobra espaço para criticar os efeitos da religião. 

Com muito suspense, terror e fantasia, Onibaba segue mostrando as consequências da guerra sob pano de fundo, intercalando momentos de dualidade com ímpetos carnais. O cenário é degradante, os personagens vivem praticamente como animais, já perderam a noção cívica, agora, elas se tornam assassinas a olho frio, tudo em busca da sobrevivência. Outro ponto interessante é a convivência das duas principais, que irá se transformar gradativamente num drama psicológico, misturada com sexualidade reprimida. É nessa hora que entra a questão da religião, que irá  criticar fortemente o medo que as doutrinas religiosas colocam sobre as pessoas, colocando como ameaça o inferno por exemplo, para conseguirem assim disciplinar a grande massa. 


Onibaba não aterroriza tanto pelo lado visual, mas sim pelo lado psicológico que os personagens vivem. E é aí que ele se torna pesado. A fotografia preto e branco ressalta ainda mais o suspense, sem deixar de lado a trilha sonora acompanhada por tambores super vitalizados, que realçam os princípios morais básicos da trama. 

Onibaba é um dos meus filmes preferidos do gênero, recomendo com todas minhas forças!!!! VEJA LOGOOOOOOO!!!!!!!!!

















         Visitor Q (2001)


Produzido em 2001, este filme japonês possui leve inspiração em Teorema de Pier Paolo Pasolini. Visitor Q retrata, de forma bizarra, a crise da família burguesa no Japão. Kiyoshi Yamazaki, interpretado por Kenichi Endo, é um pai, jornalista de profissão, que busca realizar uma reportagem sobre violência e sexo no Japão. Ele começa tendo sexo com sua filha que é prostituta e filma seu filho sendo humilhado e agredido por colegas de escola. Por sua vez, em casa, seu filho agride a mãe, que é viciada em heroína e que se prostitui. A chegada de um estranho visitante, o "visitor Q", que acompanha os comportamentos bizarros, provoca mudanças no seio da família Yamazaki.
É através do bizarro e do perverso que Miike expõe a crise de civilização da sociedade do capital no Japão do século XXI, expresso na desagregação íntima da família burguesa tradicional.

Visitor Q é um daqueles trabalhos que surgem chutando portas, ou melhor, que adentra com a mão no cu de um núcleo familiar. Aqui, tudo que parece surreal é tratado com naturalidade e um sentido de humor bastante questionável, mais o lance é, tirando aquele blá blá de muitos que assistiram o filme e comentam que ele é excessivamente bizarro, tosco, só choca por chocar, eu nado contra a correnteza e digo que aqui estamos diante de um filme de arte. A arte não é só retratar a beleza, ou ver o lado maravilhoso do universo, arte também é ser original como este filme; adentrar a fundo o lado mais sórdido das almas humanas, transtornadas pela tediosa rotina que os cerca.

Inspirado em Teorema de Pier Paolo Pasolini, o filme vai de encontro com aquilo de mais podre e ordinário nos homens, a violência e os desejos sexuais reprimidos de mãos dadas com a mais perigosa das loucuras: a própria mente. Sim, o filme tem muito a dizer, bem mais do que as sinopses, e as pessoas cheias de tabus nos querem fazer acreditar. Pense em uma família aparentemente feliz como tantas outras, o pai acorda vai ao trabalho massante, volta para casa, janta, depois dorme, para no outro dia repetir a mesma rotina. A mãe, uma mulher sem voz que parece mais um fantasma ambulante, limpa a casa, prepara as refeições, anda de um lado para o outro com a mesma cara de tédio para tudo. E o filho, cheio de rebeldia no coração, odeia os pais, mais depende deles para sustentar seu rabinho liso. E assim essa família passa os seus dias fingindo para si mesmos que são normais, e estão cumprindo seus papéis na sociedade ao aparentemente serem parecidos com os vizinhos, e com as regras pré-estabelecidas pelo homem. 

O interessante do filme em sua essência, é o choque gerado com a chegada de um jovem misterioso que faz tudo o que seu cérebro psicótico dá corda, sem medo das consequências, ele vira a casa de ponta cabeças, transformando seus membros pouco a pouco em doidos varridos. Do nada a família passa a não ser mais uma família comum, e passa a ser como eles verdadeiramente são: grotescos, com toda a sua sujeira, pecados, pensamentos maliciosos, infelicidade aguda, e por ai vai... O que me fez ficar pensando ao término do filme é como a repressão é a grande causadora dos males de um lar, quando as pessoas assumem papéis que não são os delas próprias, como por exemplo, tentar passar a imagem de felicidade a todo custo, logo tudo se acumula dentro de si, até o maldito momento em que ela se depara com alguém livre e sem medo de ser o que é, e ela acorda, e todos os seus desejos, angustias, taras, e ódio guardado vem a tona, lhe transformando em um individuo da pior espécie de todas: O infeliz enganado! Enfim, nobres leitores, eis aqui um filmaço para ver, rever, e sentir asco de toda espécie de moralismo que nos circula.













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